22 agosto 2013

Conjuntura econômica

Alta do dólar, pessimismo econômico e pajelanças da especulação

Por José Carlos Ruy, no Vermelho

Há um pessimismo generalizado, entre os comentaristas econômicos dos jornalões brasileiros, em relação ao desempenho da economia. Ele faz parte da partidarização, apontada em entrevista a O Estado de S. Paulo pelo economista Luiz Gonzaga Belluzzo, do comportamento desses analistas que, segundo ele, perdem-se em pajelanças e se afastam da necessária objetividade de suas avaliações da economia do país.

Bem ao contrário é o comportamento do jornal britânico Financial Times – o mesmo que, no ano passado, pediu, inutilmente, a cabeça do ministro da Fazenda brasileiro Guido Mantega. Em editorial publicado nesta quarta-feira (21), aquela bíblia da especulação financeira mundial manifestou opinião contrária à dos sabichões brasileiros, e defendeu as economias emergentes ante as pressões ocasionadas pelas atitudes do FED (banco central) e do governo dos EUA. Segundo o Financial Times, no editorial intitulado Mundo emergente pode lidar com as turbulências, estas economias são as vítimas mais recentes das mudanças previstas na política monetária dos EUA; apesar disso, assegura que são economias capazes de "lidar com as turbulências" e que, "se o mau tempo se aproxima, o horizonte de longo prazo para a maioria deles é brilhante". E garante: “as preocupações sobre uma crise financeira em grande escala são prematuras” pois muitos países "têm grandes reservas ou câmbio flutuante, o que mitiga a reversão do fluxo de carteira". E conclui, com otimismo: “está aberto o caminho de longo prazo do progresso econômico para muito além dos buracos da estrada no curto prazo".

O Brasil está metido no temporal provocado pelas mudanças que, se prevê, ocorrerão nos EUA, que podem levar à redução de estímulos à economia dos EUA, provocando a queda no volume de dólares em circulação e, assim, o aumento no preço da moeda americana no mundo. Aqui, a alta generalizada do dólar, assistida pelo país nos últimos dias, é acompanhada pela “pajelança” dos comentaristas ligados – a maior parte deles – à especulação financeira e que entoam, nesta conjuntura, o mantra que defende a alta dos juros.

A situação é difícil, não há dúvida. O próprio Secretário-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, manifestou a preocupação do governo quando o dólar chegou a R$ 2,41 na segunda-feira (19), a maior cotação desde março de 2009.

A dificuldade pode sr observada na oscilação no fluxo de dólares que entra no país. Os dados do Banco Central informem um saldo negativo de 279 milhões de dólares entre os dias 1º e 16 de agosto, mês que poderá terminar com a terceiro déficit consecutivo no ano. Em junho, a saída foi de 2,6 bilhões de dólares, e em julho foi de 1,44 bilhão. Mesmo que, ao longo do ano, até 16 de agosto, o Banco Central contabilize o saldo positivo de 7,8 bilhões de dólares que entraram no Brasil.

A fraca entrada de dólares neste ano tem preocupado muitos economistas a respeito do financiamento das contas externas. No acumulado deste ano, o saldo positivo é de fato pequeno, informa o Banco Central. É uma entrada fraca se comparada com os saldos positivos de alguns anos recentes, como 2009 (28,7 bilhões), 2010 (24,3 bilhões), 2011 (65 bilhões) e 2012 (16,7 bilhões).

Outro aspecto do problema é a consequência, para as empresas, da alta do dólar. Muitas delas, com dívidas no exterior, ficam em situação difícil. Um levantamento feito pela consultoria Economática, publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, a corrosão no lucro delas pode alcançar 44% do alcançado no segundo trimestre deste ano. A dívida em moeda estrangeira de 103 das empresas pesquisadas passou de 99,3 bilhões de reais no final de junho para 107,5 bilhões em 19 de agosto – um aumento de 8,2 bilhões em menos de dois meses!

Apesar do quadro difícil, o ministro Guido Mantega acredita que a economia brasileira evolui “razoavelmente bem”, como disse na sexta-feira (16), considerando sem fundamento o pessimismo manifestado em muitas análises que apostam em um PIB estagnado no 2º semestre e num crescimento anual de apenas 1% em 2014. “Não tem fundamento nenhum”, disse, enfático. Segundo ele, os investimentos vão sendo retomados e melhorou a confiança e ânimo dos empresários. “O grande evento deste segundo semestre será as concessões, que irão dinamizar a economia brasileira”, disse, citando os leilões de rodovias, aeroportos, portos, petróleo e energia.

Esse otimismo é partilhado pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade. Para ele, todos os setores da indústria estão com visão mais otimista sobre o crescimento e a rentabilidade dos negócios, e há alguns segmentos que chegam a projetar um crescimento de até 14% em 2013.

Segundo Mantega, embora a volatilidade da situação atual do dólar não permita muitas previsões, a curto e médio prazos a tendência é de desvalorização do real e de outras moedas emergentes ante ao dólar. Mas nem tudo está perdido, pois o real desvalorizado representa um estímulo para o aumento da competitividade da indústria brasileira. “Não sei se vai permanecer sequer este câmbio porque estamos num momento de volatilidade. Enquanto o Fed não deixa muito claro aquilo que vai fazer em relação aos estímulos monetários, o mercado vai especulando, vai, digamos, mudando de posições”.

Ele garante que a situação do dólar, embora estressada, está sob controle. E mandou um recado aos especuladores: “Eu só queria dizer que câmbio do Brasil é flutuante. Ele flutua para os dois lados, tanto para a desvalorização como poderá flutuar para a valorização (do real). Não se esqueçam que isso já aconteceu recentemente. É preciso tomar cuidado para não se entusiasmar e achar – como tenho visto alguns analistas – que esse câmbio vai muito longe”. Segundo ele, há um componente especulativo na alta do dólar, apesar de haver também um ajustamento do valor da moeda. “Esse é um movimento de ajustamento, mas que tem alguns componentes especulativos. Você sabe que vai diminuir o estímulo monetário americano, você não sabe quando nem como”, disse. E citou o colchão de segurança que o Brasil tem para enfrentar as dificuldades, e a especulação: “Não há nenhum temor de que possa haver algum problema maior, a situação está sob controle”, disse. E o Brasil tem US$ 370 bilhões em reservas caso seja necessária uma intervenção mais forte no câmbio.

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