Luciano Siqueira
Publicado
no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)
Uma pergunta recorrente alimenta o debate acerca dos rumos de nossa
economia: é possível manter o crescimento, com inclusão social e à base da
expansão do consumo, ainda que a taxas modestas?
Há respostas de teor otimista e pessimista, ao gosto do analista - mas
não se chega a uma conclusão consistente sem encarar os entraves de natureza
estrutural que obstaculizam o desenvolvimento do País. O buraco é bem mais
embaixo, como se costuma dizer. Envolve a alteração dos condicionantes
macroeconômicos herdados da era neoliberal, ajustando-se a política cambial e
monetária - o que não tem sido fácil, vide a truculenta oposição partidária e
midiática que ataca diuturnamente a presidenta Dilma porque tem tentado desatar
esse nó.
Hoje, mostra-se evidente que a orientação macroeconômica vigente impossibilita a capacidade de o país alcançar
rapidamente um nível de 25% na relação investimento/PIB – o que impede a
consecução de uma política agressiva de crescimento econômico pautado pelos
investimentos produtivos, estes pressionados ainda pela lógica do capital
rentista de curto prazo.
Entretanto, merece atenção estudo realizado pelo Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada) acerca da chamada "nova classe média",
indicativo de sustentabilidade da expansão desse segmento registrada na década
iniciada com o primeiro governo Lula.
Há dados no mínimo instigantes. Por exemplo, o lucro dos pequenos negócios,
no conjunto do País, cresceu 27% em dez anos, verificando-se aumento do ganho de
R$ 1.710 para R$ 2.172 mensais. Com um adendo importante, segundo o presidente
do Ipea, Marcelo Neri: considerando a variável educação, constata-se que
melhorou muito a qualidade dos empreendimentos e também a capacidade dos
empreendedores.
Vale examinar a terceira edição do caderno Vozes da Nova Classe
Média, onde se encontram esses dados – que, por seu turno, se combinam com
a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2011.
O citado Caderno demonstra que os pequenos empreendedores geram uma
massa de remuneração que supera R$ 500 bilhões, correspondentes a 39% do volume
total da renda do País, superior ao PIB de diversos países, como o Chile.
Em suma, há uma microeconomia em evolução, com vigor nada desprezível,
que alimenta a sustentabilidade do modo de crescimento inclusivo, a despeito
das pressões externas que contribuem, em muito, para represar o ritmo das
atividades econômicas em geral.
Isto tem implicações econômicas e sociais obvias. E também políticas,
pois trata-se de um segmento emergente, detentor de expectativas e
reivindicações próprias.
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