15 agosto 2013

Entre o marketing e a realidade

O acaso e a lei objetiva na luta política
Luciano Siqueira

Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

O acaso na História, tema instigante e sempre atual. Desde Engels, em meados do século 19 (pelo menos na literatura marxista) se discute isso. Fato fortuito, que tinha tudo para passar despercebido ou sem maior repercussão, ganha a força de, em determinada circunstância, funcionar como uma faísca que incendeia o ambiente e muda o curso da luta.

Por exemplo, há quem considere que Collor despertou a ira da Globo e demais redes de comunicação no momento em que tentou adquirir o controle da então TV Manchete. Bastou que surgissem denúncias de corrupção e a figura esquisita do PC Farias para que a grande mídia passasse a incentivar o movimento das ruas que questionava a usurpação dos limites constitucionais por parte do então presidente da República e erguia a bandeira “Fora Collor!”. O final da ópera todos sabemos, deu-se o impeachment do presidente alagoano.

Mesmo antes desse episódio, em geral quando das grandes disputas eleitorais, frequentemente se busca um “fato novo” que possa ser habilmente explorado, abalar convicções e resultar numa inversão de tendências do eleitorado. No auge da campanha eleitoral passada fez-se uma exploração midiática sem precedentes, em tempo no noticiário e sofisticação dos apelos, do julgamento do chamado “mensalão”, na tentativa de evitar a vitória da esquerda – mormente do PT – no pleito. Esforço inglório, pois foi justamente o Partido dos Trabalhadores a agremiação que mais vitórias obteve, com destaque para a eleição de Fernando Haddad na capital de São Paulo.

De um modo assemelhado, na medida em que se aproxima a fase pré-eleitoral propriamente dita, nas hostes oposicionistas e na grande mídia hegemônica cresce a impaciência porque não parece fácil construir uma candidatura capaz de derrotar a coalizão que ora governa o País.

Em artigo recente, Marcos Coimbra se refere ao assunto assinalando o que chama de “aversão ao risco do eleitor comum”, que tende a rejeitar candidaturas meteóricas, ao estilo de Collor em 1989, por tudo o que aconteceu até o impeachment. Isto para dar uma dimensão relativa às muitas especulações acerca do próximo pleito presidencial, emolduradas, em parte, pela expectativa do “fato novo”.

Desde o pleito de 1989, quando a disputa se deu “solteira”, ou seja, exclusivamente para a presidência da República, e não “casada”, como no ano vindouro, em que além da presidência estarão em causa o Senado, a Câmara, as Assembleias Legislativas e os governos estaduais, “o espaço para invencionismos diminuiu de forma considerável. Na dúvida, a vasta maioria dos eleitores prefere não arriscar”, analisa.

Donde se conclui – pelo menos em minha modesta compreensão – que ao invés de artifícios e pretensas jogadas de marketing, a sorte dos diversos postulantes estará depositada em propostas programáticas concretas, que estejam em sintonia com as necessidades atuais do País e possam sensibilizar a maioria do eleitorado.

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