03 abril 2015

Uma crônica para descontrair

A persistente presença do bizarro

Luciano Siqueira, no Jornal da Besta Fubana

Nem sei se este é o melhor título para anunciar o breve comentário que farei aqui. Também não tenho certeza de que o assunto interessa aos meus poucos leitores semanais...

Explico: com muito que fazer, mas necessitando de uma pausa amena na manhã nublada de São Paulo, fiz o costumeiro passeio internético, ao modo de devaneio, acionando sites noticiosos com o olhar ali embaixo, perto do rodapé.

Foi assim que me deparei com manchetes que beiram o bizarro: "Casal é preso e faz sexo dentro da viatura da PM", "Cantor perde quase 70 quilos ao se assustar com foto em capa de CD", "Micro-porca é proibida de entrar em pubs porque fica bêbada"...

São fatos reais, devidamente chancelados pelas agências de notícias.

Lembram uma manchete mal escrita, atribuída a um redator do Diário de Pernambuco, em meados do século passado: "Padre viaja com raiva e não sabe".

O padre em questão fora mordido por um cachorro acometido de hidrofobia, corria o risco de estar infectado, pegou a estrada e até o fechamento da edição do vetusto matutino ninguém o alcançara para lhe dar a má notícia. Não havia telefonia celular naquele tempo.

Agora, voltando aos ditos fatos recentes, parece esquisito que um casal de presos por furto, conduzidos algemados no camburão da política, tenha se valido da oportunidade para os prazeres do sexo. Esquisito, mas sem a menor importância, creio.

Da mesma forma, um cantor provavelmente obeso, ao ver-se retratado na capa de um CD terá sido tomado de uma determinação invulgar e, em pouco tempo, mediante severa dieta, conseguiu subtrair do seu corpanzil 80 quilos! Está feliz? É o que vale. Mas também não tenho o menor interesse em saber detalhes. 

E a porca que transita pelas ruas de Londres conduzida pelo seu dono, coitada: ébria depois de umas boas doses de scotch, teve o seu direito de ir e vir cerceado! Quer dizer: esse direito ela deve ter, do contrário o fato não viraria notícia internacional.

Ora, se tais informações circulam com destaque em portais noticiosos mundo afora é porque interessam a muita gente. 

Porém há fatos edificantes que bem poderiam ocupar o espaço. Mas o critério editorial parece ser irmão gêmeo da opção por empanturrar leitores, telespectadores e ouvintes de rádio com desastres, roubos, assassinatos, acidentes vários, enquanto as boas notícias - que existem - simplesmente passam ao largo. 

Grupos monopolistas de mídia não apenas são comprometidos politicamente, aqui e alhures, como trocam a boa e necessária informação por bobagens que divertem apenas tolos e desocupados.

Você concorda?
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