12 maio 2015

Convergência momentânea

Idas e vindas na busca da unidade possível

Luciano Siqueira, no Blog da Folha

“É impossível ser feliz sozinho”, ensina Tom Jobim em sua bela canção Wave. No amor e na luta política.

Aqui e alhures, a história jamais registrou vitórias significativas alcançadas a poucas mãos. É sempre imprescindível unir forças – mesmo dispares e contraditórias entre si, em favor de um objetivo comum, ainda que de curto ou médio prazo.

Fora disso, faz-se apenas o protesto. Sem ganhos sequer parciais e de pequeno alcance.

As centrais sindicais protagonizam agora um exercício prático de uma complexa e sinuosa busca de unidade em torno do Projeto de Lei 4.330 (no Senado como PLC 30), que trata da terceirização.

Quando da tramitação na Câmara, elas se dividiram: a Força Sindical e aliadas menos expressivas tomaram partido em favor do empresariado, enquanto a CUT e a CTB e aliadas se posicionaram em favor dos trabalhadores.

Isto a custa de muito atrito entre elas. Clima bélico.

Em que podem estar unidas imediatamente as centrais? Basicamente no combate à terceirização na atividade-fim das empresas e na realização, dia 29, de um ato nacional de protesto contra as medidas consideradas prejudiciais aos trabalhadores, contidas no ajuste fiscal.

Pouco? Talvez sim, tendo em conta a dimensão dos interesses reais dos que vivem do trabalho em nosso país, que abarca pauta bem mais ampla. Além da preservação do emprego, do nível salarial e de direitos trabalhistas essenciais, dependentes da retomada do crescimento, impõe-se a própria defesa da democracia, do mandato constitucional da presidenta Dilma, da Petrobras, da economia e da engenharia nacional; o combate à corrupção com o fim do financiamento empresarial das campanhas.

Mas aí já seria querer demais, agora, tal a dispersão de forças e o conflito de interesses que desenham o atual quadro político e das lutas sociais em âmbito nacional.

Quando a maré não está pra peixe e tem nego beliscando azulejo, como se diz comumente, ganha enorme importância o fato dos dirigentes sindicais estarem à mesa em busca da unidade possível e contribuírem, cada central a seu modo, para as manifestações de rua conjuntas.

Porque a luta política não se dá em linha reta e sempre comporta diferenças e discrepâncias, mais ainda num país como o nosso, de dimensões continentais e imensas diversidades.

De uma forma ou de outra, ainda que como um rio que segue seu curso contornando obstáculos – nesse caso sobretudo de ordem subjetiva -, colocar em movimento trabalhadores e fazer ouvida a voz das ruas constitui um componente fundamental na atual cena política nacional.

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