01 maio 2015

Uma questão candente

A condição geográfica da pessoa idosa: qual lugar?

Maêlda Lacerda[1]
De onde partir para analisar a condição de uma realidade temporal do envelhescente, quando sabemos que os lugares mudam? A categoria Lugar, que os geógrafos estudam, tem histórias e espaços variados. Esses espaços são os lugares vividos, percebidos e concebidos que guardam a diversidade das sensibilidades humanas, a atenção para as expressões individuais e a consciência dos constrangimentos ligados à existência de normas e valores. Quem mais internaliza o valor dos signos pertencentes ao lugar geográfico é a pessoa idosa, porque carregada de farta memória, porque acompanhada de recorrentes lembranças. As pessoas idosas identificam-se com o lugar onde moram desde crianças. Simone de Beauvoir diz, em um grande clássico sobre a velhice, que “há na lembrança uma espécie de magia à qual somos sensíveis em qualquer idade. Mas são, sobretudo, os velhos que a evocam com complacência”. É possível afirmar, grosso modo, que as pessoas idosas vivem mais da lembrança do que da esperança. Porque passeiam por certas ruas, reconhecem as paisagens históricas das cidades, mas não reencontram os mesmos projetos, os mesmos desejos: não se reencontram. No entanto, paradoxalmente, é a pessoa idosa que reconstrói a memória social e localiza os fatos passados, e narra com riqueza de detalhes a nossa história. Por isso, as representações não aparecem fundamentalmente apenas como realidades individuais, elas são também de natureza social. Este ponto aparece como algo importante para que seja repensado o lugar que o envelhescente ocupa no âmbito social, pois o tempo e os espaços vividos só se semiotizam quando são expressados como experiência humana. Externar, para a pessoa idosa, significa enunciar a convivência, a vida das interrelações sociais ocorridas em determinado lugar. Esse entendimento, se colocado como atributo para formulação de políticas públicas para a pessoa idosa, revelará atores sociais que registram e projetam os fenômenos de suas próprias culturas. E, se concebidos assim, se reconhecerão nos seus lugares e serão reconhecidos.
[1] Maêlda Lacerda é doutora em Geografia e professora do Instituto Federal de Educação de Pernambuco, atuou como Membro do Conselho Estadual dos Direitos do Idoso.
Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

Nenhum comentário: