11 maio 2015

Uma crônica para descontrair

Dizer o quê?

Luciano Siqueira, no Jornal da Besta Fubana


O piloto do voo Recife-São Paulo da Gol se apresenta e, após breves informações sobre as condições meteorológicas e afins, fala da recente tragédia aeroviária nos Alpes franceses e pede a nossa confiança - dos passageiros sob seus cuidados.

Para quê?

A inoportunidade do comentário percebo no casal ao meu lado, tomado daquela angústia típica do medo repentino.

- Ah, meu Deus! Será que vai nos acontecer uma desgraça?

- Calma, o piloto quis apenas nos tranquilizar, Eunice.

- Desse jeito, Armando? Por que ele não fez como o da nossa viagem ao Rio, que falou de Tom Jobim e do Corcovado?

Quieto no assento do corredor, assenti silenciosamente que ela tinha razão.

Minha mãe, sensível e simples, sempre ensinou que sempre há o momento certo para dizer as coisas. Seguramente, falar em desastre aéreo em pleno voo não é oportuno.

Parecido com o médico residente tecnicamente capaz, porém desastroso no trato com os pacientes, que advertiu a mãe diabética de uma amiga minha a propósito de um procedimento destinado a remover uma lesão reincidente na planta do pé, anunciando o risco de amputação de todo o membro inferior. 

Isso numa sexta-feira, levando a paciente a sofrer antecipadamente por todo o fim de semana, vez que o dito procedimento cirúrgico ocorreria apenas na segunda-feira!

Ao final, o pior não aconteceu e a lesão foi debelada com sucesso.

Outra: meu neto Miguel, ainda no maternal, sofreu trauma num dedo do pé direito que implicou simples, porém cuidadoso procedimento cirúrgico. A pediatra de plantão precipitou-se em antecipar, exageradamente, que o garoto corria o risco de perder o dedo.

Não fosse a mãe tranquila e filha de médico igualmente tranquilo, teria sofrido previamente por algo que não viria a acontecer.

Moral da história: a palavra é algo precioso e sublime, desde que pronunciada de modo adequado e no momento certo.

Quem apenas fala, sem a menor sensibilidade para quem ouve, deve mesmo aprender a calar.

O piloto da Gol, o médico residente e a pediatra teriam feito muito melhor se optassem pelo silêncio.

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