A roda da História se move
Luciano
Siqueira, no Blog de Jamildo/portal NE10 e no portal Vermelho
Aos
internautas, nem tanto, pois na grande rede ainda é possível estabelecer o
contraditório e apresentar "a luta face" dos acontecimentos.
A
roda História se move. Para adiante.
Ontem,
por ocasião do lançamento do livro "Dossiê Itamaracá", de Joana
Côrtes - rico registro da vida e da luta no pavilhão dos presos políticos na
Penitenciária Barreto Campelo, sob a ditadura militar -, como que em flash
back, me veio à mente a emoção da chegada ao presídio, após mais de quarenta
dias sob tortura do DOI-CODI e uma passagem pela Polícia Federal de Alagoas.
É
que depois de mais de quatro anos constrangido a pequenas reuniões, de não mais
do que quatro ou cinco participantes, sob rigorosa segurança, afinal ingressava
num coletivo de mais de trinta prisioneiros. Muita gente.
Ali
reencontrava companheiros do movimento estudantil da chamada geração meia oito
e conhecia outros combatentes de diversas agremiações políticas.
Nas
seis celas que davam para um corredor ou no pátio de solo de barro batido onde
tomávamos o banho de sol, jogávamos bola e fazíamos peças de artesanato, a
conversa era livre.
O
diálogo, a polêmica ou simplesmente a troca de impressões sobre a vida.
O
jornal mural “Unidade” acolhia textos datilografados, que expunham para nós
mesmos opiniões dos mais afeitos ao debate.
Anos
depois, finda a ditadura, retomada a militância à luz do dia, numa das datas
redondas de celebração da Anistia, fomos entrevistados juntos, Miguel Arraes e
eu, por uma repórter de TV.
Hábil
e inteligente, a repórter nos conduziu a comparar o tempo de vida clandestina,
prisão, cadeia e exílio com a nova ascensão do movimento democrático. O
ex-governador Arraes, então, sentenciou:
-
Naquele tempo, temíamos os fuzis e as baionetas, a prisão e a tortura, não
podíamos falar. Hoje, já não tememos a repressão policial, podemos falar. O
risco não é sermos presos, é não sermos compreendidos, tamanha a distorção da
realidade pelos meios de comunicação.
Ele
se referia à espécie de “pensamento único” imposto a ouvintes, leitores e
telespectadores.
A
declaração de Arraes recordei ontem, no breve debate que antecedeu a sessão de
autógrafos. Pedro, 15 anos, meu neto, em depoimento emocionado, agradeceu à
geração de militantes retratada no livro de Joana Côrtes pela liberdade que as
gerações atuais têm de expressar o que pensam e fazer suas escolhas.
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