24 novembro 2015

Meu artigo hoje no Blog da Folha

Quase nada do que era possível

Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Erra duplamente o senador Renan Calheiros ao afirmar que o Congresso Nacional "fez tudo o que era possível" e que é de "união de todas as lideranças políticas do País, mas não em torno do governo" - conforme noticia hoje a Folha de Pernambuco.
Findo o ano, o que se pode cotejar é justamente o contrário: o Congresso Nacional (a Câmara dos Deputados em especial) torpedeou como pôde o necessário ajuste fiscal para equilibrar as contas públicas. Fez quase nada de produtivo em relação à crise econômica.
Contraditoriamente, aliás.
A composição congressista majoritariamente conservadora, por convicção ou por observância do que propõem os economistas dos seus partidos, estivesse no governo um tucano ou peemedebista conservador, não apenas aprovaria o conjunto das medidas propostas para ajustar a economia, como tudo faria para perpetuar os fundamentos do ajuste proposto.
Mas age contra suas próprias convicções, porque o que põe em jogo é o poder político e a esperança (até agora frustrada) de interromper o mandato da presidenta Dilma e retomar a linha nefasta neoliberal adotada nos anos FHC.
Ora, se a crise é grave e, portanto, cabe arregimentar energias em favor de sua solução, por que não um pacto nacional nessa direção? 
Se cabe unir "todas as lideranças", como diz o senador, porém "não em torno do governo", do que se estaria cuidando? 
Como o País seria governado?
De que modo essa concertação de líderes conduziria a solução para a crise?
Das infelizes declarações do presidente do Senado se depreende o tamanho das dificuldades políticas que Dilma provavelmente seguirá enfrentando o ano que vem, às voltas com uma base parlamentar de sustentação frágil e instável e sob a ameaça permanente. 
Sem uma oposição que inspire confiança, no dizer mesmo dos que pugnam contra Dilma.
Na grande mídia, articulistas vêem lamentando que o PSDB tenha se perdido no samba de uma nota só: impeachment a qualquer custo, além de nenhuma proposta para solucionar a crise e a promiscuidade ostensiva com o deputado Eduardo Cunha. Ou seja: não se faz alternativa aceitável perante a maioria dos brasileiros. Não se faz porque efetivamente não é.
Resta a expectativa de que, como vem acontecendo do nos últimos meses, parcelas expressivas da sociedade, inclusive dos setores hegemônicos da economia, se dêem conta da necessidade de afastar em definitivo toda e qualquer ameaça antidemocrática e contribuir, cada qual em sua posição, para a necessária governabilidade.
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