A injustiça contra Lula para além da emoção
Luciano Siqueira
A luta segue. Sem tréguas. De ambos os lados: na grande mídia, hoje, o registro (acanhado) das manifestações de rua em solidariedade ao ex-presidente e a comemoração (explícita) de sua condenação e o apelo para que venha a ser preso e impedido de concorrer no próximo pleito.
Luciano Siqueira
A luta segue. Sem tréguas. De ambos os lados: na grande mídia, hoje, o registro (acanhado) das manifestações de rua em solidariedade ao ex-presidente e a comemoração (explícita) de sua condenação e o apelo para que venha a ser preso e impedido de concorrer no próximo pleito.
A parada é dura. Prolongada. Plena
de obstáculos e desafios — sobretudo táticos, pois o emaranhado de armadilhas e
o jogo pesado que emergem do Judiciário, do Legislativo e do Executivo (nessa
ordem) impõem o bom combate com muito juízo, para além da justificada emoção.
O que vimos nas ruas em Porto
Alegre anteontem e ontem também em São Paulo e pelo Brasil afora, com
repercussões e repiques internacionais, anuncia um elemento tão vigoroso quanto
essencial: a expansão das vozes das ruas disseminadas no conjunto da sociedade.
Lícito é avaliar que a resistência
democrática tende a crescer na esteira do sentimento de injustiça contra Lula —
e a afirmação do legado do seu governo — em contraposição à desgraça social e
política perpetrada por Temer e seu grupo, a serviço do Mercado e dos
interesses estrangeiros.
Uma espécie de "contraste
visual" que toca fundo à emoção das pessoas. E nada é mais corrosivo
(contra quem a pratica) do que a percepção da injustiça.
Mas a luta que segue, vale
sublinhar, tem dimensão bem além do que a solidariedade a Lula e as iniciativas
com a marca do Partido dos Trabalhadores. Trata-se da luta pela democracia e
pela soberania do país — como o próprio Lula acentuou ontem, em discurso na
Praça da República, em São Paulo.
Então, concomitantemente com a
defesa do direito de Lula se candidatar à presidência, há que se ampliar o
debate acerca de alternativas para a crise.
Nesse debate, que a realidade
reclama consciencioso, aprofundado, amplo, cabem as contribuições de pré-candidaturas
à presidência, como a de Ciro Gomes (PDT) e Manuela D'Ávila (PCdoB) e de outras
que venham a ser apresentadas.
Como bem assinala a nota do PCdoB
assinada por Luciana Santos e Manuel D’Ávila, o golpe foi consumado para implementar
um violento projeto de recolonização do país, que inclui a destruição dos
direitos dos trabalhadores e trabalhadoras e a reafirmação dos interesses do
rentismo parasitário.
Esse programa não aceita a democracia porque não pode ser
implementado sem calar o povo, cassando-lhe o direito ao voto, perseguindo suas
lutas e seus dirigentes.”
Numa luta de tamanha dimensão, não
cabe exclusivismo. A pluralidade de ideias pode e deve desaguar numa plataforma
comum que viabilize a unidade das forças democráticas e progressistas no pleito
de outubro, já no primeiro ou no segundo turno.
Que os protestos se repitam e se
ampliem e emoção flua como estímulo ao combate. E, ao mesmo tempo, avance a
reflexão e o debate sobre os rumos do país.
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