Dois erros de enfoque
Luciano Siqueira
Com todo respeito, cabem reparos a dois pontos de pauta da grande imprensa neste início do ano novo: a lista de promessas dos prefeitos empossados há um ano, sob o crivo do que efetivamente foi realizado, ou não; e a afirmação de que a "corrida" eleitoral já começou.
Não é bem assim.
O simples cotejamento entre o que consta na plataforma dos então candidatos a prefeito, inclusive dos que se reelegeram, e as realizações efetivadas até agora traz em si um abissal equívoco.
Vejamos.
Primeiro, um programa de governo se realiza no curso dos quatro anos de mandato, muitas realizações se dão tão somente entre o terceiro e quatro ano porque pressupõem medidas preparatórias de diversas ordens, inclusive orçamentárias.
Segundo, ninguém governa numa redoma, ou numa ilha dotada de plena autonomia, infensa a variáveis advindas de outras esferas de poder ou da própria conjuntura econômica e financeira.
No Brasil, como se sabe, o sistema federativo inclui estados e a União federal, além do poder local. Recursos essenciais se concentram nas mãos do governo central, assim como políticas públicas e linhas de financiamento - que implicam em certo grau de dependência do município em relação à União.
Terceiro, tanto o estado de saúde financeira, e os fluxos das transferências aos municípios, e arrecadação de tributos têm atravessado situação penosa, afetando diretamente o poder de fogo das prefeituras.
Desconhecer esse contexto e quedar no simplismo quase meramente aritmético da avaliação do primeiro ano de governo significa erro crasso.
De outra parte, até as águas que circulam pelo Capibaribe sabem que a "corrida" eleitoral inevitavelmente é antecedida por uma fase de maturação dos diversos fatores que influenciam as escolhas dos partidos e as possibilidades de concretização de candidaturas majoritárias.
No quadro geral brasileiro de tremenda instabilidade (e imprevisibilidade), imaginar agora que o cenário eleitoral ganhe contornos mais nítidos é viajar a anos luz de distância da realidade concreta.
No âmbito nacional, o julgamento do ex-presidente Lula pelo Tribunal Regional Federal sediado em Porto Alegre - para citar apenas um dentre muitos fatores relevantes -, a depender do resultado, pode interferir fortemente na disputa presidencial.
Cá na província, basta uma rápida vista d'olhos sobre as hostes oposicionistas para verificar a gama de contradições e interesses conflitantes a serem superadas, o que demanda tempo. Além do que, no campo governista, também não são poucos os entendimentos a serem concretizados.
Assim, a "corrida" propriamente dita, tendo em vista o pleito de outubro, tomará corpo de verdade, e conquistará espaço nas manchetes, pelo menos após abril, quando inclusive termina o prazo para novas filiações partidárias dos interessados em se candidatar.
Enfim, como dizia um velho amigo jornalista de saudosa memória, referindo-se aos exageros e as precipitações midiáticas, "em tempo de vacas magras, papel aceita tudo".
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Luciano Siqueira
Com todo respeito, cabem reparos a dois pontos de pauta da grande imprensa neste início do ano novo: a lista de promessas dos prefeitos empossados há um ano, sob o crivo do que efetivamente foi realizado, ou não; e a afirmação de que a "corrida" eleitoral já começou.
Não é bem assim.
O simples cotejamento entre o que consta na plataforma dos então candidatos a prefeito, inclusive dos que se reelegeram, e as realizações efetivadas até agora traz em si um abissal equívoco.
Vejamos.
Primeiro, um programa de governo se realiza no curso dos quatro anos de mandato, muitas realizações se dão tão somente entre o terceiro e quatro ano porque pressupõem medidas preparatórias de diversas ordens, inclusive orçamentárias.
Segundo, ninguém governa numa redoma, ou numa ilha dotada de plena autonomia, infensa a variáveis advindas de outras esferas de poder ou da própria conjuntura econômica e financeira.
No Brasil, como se sabe, o sistema federativo inclui estados e a União federal, além do poder local. Recursos essenciais se concentram nas mãos do governo central, assim como políticas públicas e linhas de financiamento - que implicam em certo grau de dependência do município em relação à União.
Terceiro, tanto o estado de saúde financeira, e os fluxos das transferências aos municípios, e arrecadação de tributos têm atravessado situação penosa, afetando diretamente o poder de fogo das prefeituras.
Desconhecer esse contexto e quedar no simplismo quase meramente aritmético da avaliação do primeiro ano de governo significa erro crasso.
De outra parte, até as águas que circulam pelo Capibaribe sabem que a "corrida" eleitoral inevitavelmente é antecedida por uma fase de maturação dos diversos fatores que influenciam as escolhas dos partidos e as possibilidades de concretização de candidaturas majoritárias.
No quadro geral brasileiro de tremenda instabilidade (e imprevisibilidade), imaginar agora que o cenário eleitoral ganhe contornos mais nítidos é viajar a anos luz de distância da realidade concreta.
No âmbito nacional, o julgamento do ex-presidente Lula pelo Tribunal Regional Federal sediado em Porto Alegre - para citar apenas um dentre muitos fatores relevantes -, a depender do resultado, pode interferir fortemente na disputa presidencial.
Cá na província, basta uma rápida vista d'olhos sobre as hostes oposicionistas para verificar a gama de contradições e interesses conflitantes a serem superadas, o que demanda tempo. Além do que, no campo governista, também não são poucos os entendimentos a serem concretizados.
Assim, a "corrida" propriamente dita, tendo em vista o pleito de outubro, tomará corpo de verdade, e conquistará espaço nas manchetes, pelo menos após abril, quando inclusive termina o prazo para novas filiações partidárias dos interessados em se candidatar.
Enfim, como dizia um velho amigo jornalista de saudosa memória, referindo-se aos exageros e as precipitações midiáticas, "em tempo de vacas magras, papel aceita tudo".
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