08 março 2019

Contradições entre eles


Sem meias palavras, Estadão detona Bolsonaro em editorial
'Em Davos, precisou de seis minutos para mostrar sua incompetência administrativa. Com os fuzileiros navais, não precisou de mais de quatro minutos para revelar sua face autoritária e sua ignorância cívica’
Jornal GGN
Intitulado com ‘Quebrando louças’, o editorial de hoje do Estadão não traz boas notícias para o presidente Jair Bolsonaro. Já começa dizendo que um país vai mal quando seu ‘presidente claramente não entende qual é seu papel, especialmente quando não consegue dominar os pensamentos que, talvez, lhe venham à mente’. A grita bolsonariana vai ser geral depois disso.
Mas este é só o começo. Diz que o esforço de comentaristas para dar sentido às destrambelhadas manifestações de Bolsonaro, como sendo algo estratégico ou fizessem parte de um plano nacional de comunicação, é comovente. E tarefa inglória.
O editorial massacra o personagem desde o ‘grotesco discurso de posse, atulhado de arroubos e bravatas ginasianas’, que demonstra que ele nunca foi talhado para ocupar o cargo de chefe de Estado, já que não sabe medir palavras ou gestos. Ao contrário, diz o texto, seu comportamento grotesco e indecoroso faz perceber que ele se considera acima do cargo que ocupa, dispensando-se dos rituais e protocolos ‘próprios de tão alta função’.
E crava o esperado: a disseminação de pornografia pelas redes sociais é uma tarefa que ele se encarregou, ‘para estupefação nacional e internacional’.
Para o Estadão, a única estratégia possível é deixar o País apreensivo a cada novo tuíte ou discurso, ‘pois nunca se sabe o que virá’. O jornal afirma que o personagem foi eleito e, na sua concepção, isso o libera para dizer o que lhe vem á cabeça, sem se importar com a onda de estragos vindas na esteira. E daí seus assessores que se virem para tentar reduzir os prejuízos.
Mas, e o mais não ajuda Bolsonaro, há casos em que nem mesmo o mais habilidoso ministro é capaz de remendar. E cita o discurso de ontem feito no Corpo de Fuzileiros Navais do Rio quando ele disse, com todas as letras, que ‘democracia e liberdade só existem quando as Forças Armadas assim o querem’. É textual. Segundo o jornal, será preciso um grande malabarismo retórico para tirar a pecha de um pensamento irremediavelmente autoritário, ‘de quem acredita que a democracia é apenas um favor dos militares aos civis’. E se conclui que, para o presidente da República, ‘a democracia e a liberdade seriam meramente circunstanciais’, pois dependeriam dos humores dos quartéis.
E o golpe de misericórdia do Estadão, quando diz que um país vai mal quando seu presidente não entende qual é seu papel, principalmente quando não consegue dominar os pensamentos que, talvez, lhe venham à mente. Diz que Bolsonaro, como chefe de Estado, tem obrigação de saber que todas e qualquer uma de suas palavras, nortearão o debate político nacional, seja no Congresso ou nas ruas, e terão consequências no campo da economia. ‘O presidente deve ter consciência de que não é mais candidato, condição que lhe permitia incorporar o personagem histriônico e falastrão que seus fanáticos seguidores apelidaram de “mito”’, diz o texto. E que sua retórica violenta é péssima para agregar apoio político para um governo que começa sem base no Congresso. Pelo menos base visível.
Sua atuação no Carnaval, antagonizando foliões nas redes sociais, divulgando vídeo pornográfico a título de ‘verdade’, não trará votos para os projetos ‘de real interesse do País’.
E finaliza, e aqui vai todo o texto: ‘O bom senso sugere que não se deve esperar que Bolsonaro de repente compreenda seu papel e se transforme num estadista, capaz de, em poucas palavras, guiar as expectativas do País. Diante disso, a ala adulta do governo parece ter decidido trabalhar por conta própria, tentando reparar os danos da comunicação caótica e imprudente de Bolsonaro – desde os prejuízos econômicos causados pelo despropositado antagonismo público do presidente em relação à China e aos países árabes, até a dificuldade de arregimentar apoio a uma reforma da Previdência na qual Bolsonaro parece não acreditar. Pelo que se viu até aqui, todo o esforço que alguns de seus auxiliares estão fazendo para que o presidente desastrado não quebre toda a louça será inútil. Bolsonaro está ficando cada vez mais rápido e certeiro. Em Davos, precisou de seis minutos para mostrar sua incompetência administrativa. Com os fuzileiros navais, não precisou de mais de quatro minutos para revelar sua face autoritária e sua ignorância cívica’.
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