14 março 2019

Uma crônica para descontrair


“O mais perigoso do Brasil”
Luciano Siqueira

O fato insofismável é que o circo sobrevive em nossas plagas, cá na sofrida mas resistente e promissora região nordestina.

Circos de variadas dimensões se mantêm atuantes, sobretudo nas áreas periféricas das metrópoles e interior adentro.

A alguns falta até a lona completa, o que os constrange à ausência de cobertura. Outros, além de uma variedade minimamente razoável de atrações, possuem cobertura e também um ou dois veículos.

Tem também os de médio porte e algum luxo.

Talvez seja o caso do circo propagandeado no litoral sul do Paraíba, onde estive com a família para um breve período de descanso.

Carro de som envelopado com a marca e frases de apelo, circulava anunciando mais um espetáculo do “extraordinário Glamour Circo’s”, tendo como principal atração “o globo da morte mais perigoso do Brasil!”

Retorno, então, ao meu tempo de criança no bairro da Lagoa Seca, em Natal, onde vivi parte da infância e da adolescência.

Por ali passaram muito circos. Sempre uma festa!

À tarde, um palhaço equilibrado sobre pernas de pau, megafone à mão, gritava “Hoje tem espetáculo!”. Em seguida, repetia o anúncio em tom de pergunta: “Hoje tem espetáculo!?”, ao que a molecada do bairro, que o seguia, todos com uma marca de tinta no braço (que lhes daria o direito de entrada gratuita à noite), respondia em uníssono: “Tem, sim senhor!”

E o diálogo seguia serpenteando as ruas mais movimentadas:

- Hoje tem espetáculo!?

- Tem, sim senhor!

- Às sete horas da noite?

- Sim, senhor.

E o arremate histriônico:

- Oi, arremexe D. Chica pra fazer canjica!...

E a meninada requebrava numa alegria incontida...

Aos meus olhos de menino todo circo que se anunciava me parecia o melhor do mundo!

Mais ainda quando o desfile se fazia com algum toque de sofisticação, a presença de artistas uniformizados na carroceria de uma caminhoneta, palhaços fazendo graça, malabaristas ensaiando alguma trela, algum animal adestrado...

Bem que gostaria de ter visto o espetáculo do “Glamour”, num município distante uns quinze quilômetros.

Mas minhas motivações já não são como as do garoto da Lagoa Seca... Optei por permanecer à beira-mar, taça de vinho à mão, e me deliciar com a lua iluminando as águas, as intermináveis brincadeiras do sobrinho André, de Victor, Martinha, dos netos Pedro, Miguel e Alice e outros tantos que provocam em Luci gargalhadas estridentes e fazem a alegria de Neguinha e Tuca.

Porém ficou a curiosidade: por que o globo da morte do “Glamour Circo’s” é o mais perigoso do Brasil?

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