Francisco Eduardo
Defensivo, futebol
jogado no Brasil parece estar em busca da morte
Com jogos com poucos gols fica ainda
mais difícil lotar estádios
Juca Kfouri, Folha de S. Paulo
Defesa!
Defesa! Defesa!
As
torcidas americanas na NBA são unânimes em pedir aos seus quintetos que se
defendam.
Por
aqui, há quem elogie a atitude como a verdadeira compreensão do espírito do
jogo, sem perceber que time algum é campeão apenas por ter a melhor defesa, mas
porque se defender bem permite ter mais a bola e atacar melhor.
O
defensivismo como opção leva um governador amalucado a apostar nos snipers,
outro a prometer tiro na testa e o que se vê é apenas a criminalidade aumentar
fruto do desemprego —e um inocente ser
morto pelo exército depois de seu carro levar 80 balas.
Os
dois finalistas do campeonato
estadual menos desinteressante, mais rico e mais equilibrado do
país, levam ao paroxismo a famosa frase de Carlos Alberto Parreira, “o gol é
detalhe”.
O Corinthians marcou 14 gols em 16 jogos. O São Paulo 16 —um por jogo.
Para
a rara leitora e o raro leitor terem ideia, no Campeonato Inglês, o mais
interessante, mais rico e mais disputado dos campeonatos nacionais, o líder
Liverpool tem média de 2,2 gols por partida e o vice-líder Manchester City tem
média de 2,6 —83 gols em 32 jogos.
Será
que tais números têm a ver com o fato de a média de público na Premier League
estar na casa dos 38 mil torcedores por jogo e a do estadual paulista ser de
8.000?
Porque
por mais que o torcedor queira vencer, tudo tem limite.
Peguemos
as semifinais do Paulistinha.
Palmeiras
e São Paulo jogaram por 180 minutos e não fizeram um mísero
golzinho.
A
emoção ficou para a decisão na marca do pênalti, e com torcida única!
Santos
e Corinthians jogaram sob chuva uma partida em que só um time estava disposto a
fazer gol, o Santos.
Tudo
bem, dirá você, o 0 a 0 classificava o Corinthians.
Mas
isso justifica se negar a jogar?
Limitar-se
a finalizar apenas três vezes, nenhuma delas a ponto de exigir uma defesa do
goleiro Vanderlei?
O
Santos só fez seu gol no fim, depois de chutar 22 vezes e de exigir, pelo
menos, seis grandes defesas de Cássio.
Prova de que o Corinthians nem sequer se defendeu
bem, porque, se tivesse, o goleiro não teria trabalhado tanto, como trabalham
os goleiros de times pequenos.
Aliás, quem melhor se resguardou foi mesmo o
Santos, porque ficou com a bola 70% do tempo, porque acuou o rival em sua área,
porque não correu riscos.
Verdade que Corinthians chutou dentro do gol
santista, e sete vezes, mas na emocionante cobrança dos pênaltis, também com
torcida única, pressão maior para o time mandante.
Ganhou a vaga na decisão, não o respeito de quem
gosta de futebol, pelo menos dos que vão aos estádios não para ver disputa de
pênaltis.
Pode vir a ser o campeão mais uma vez e a estrela e
competência de Fábio Carille serão justamente cantadas em prosa e verso.
Mas, aos 45 anos, ele é jovem demais para se
acomodar no resultadismo que, a longo prazo, está para o futebol assim como os
snipers do sargentão Witzel, ou os tiros na testa do playboy Dória, estão para
os direitos humanos e para o combate à bandidagem: crimes contra a arte do
futebol e contra a humanidade.
Se os treinadores no Brasil não passarem a se
preocupar com a qualidade do jogo que entregam, logo mais os estádios estarão
mais vazios ainda e seus salários passarão a ser diretamente proporcionais ao
que os torcedores resultadistas estarão dispostos a pagar.
Estádios vazios e prisões lotadas estão longe de
ser solução para qualquer coisa.
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