Nem os investidores acreditam
Luciano
Siqueira
No recorde de desaprovação do presidente Jair
Bolsonaro nos seus cem primeiros dias de governo há uma variável de peso
acentuado: a perda de confiança de uma parcela expressiva da população. Inclusive
dos investidores no mercado de capitais.
Numa economia excessivamente financeirizada e extremamente
vulnerável às pressões externas, analistas levam em conta os índices de
confiança dos chamados atores econômicos, vale dizer, os humores do mercado.
A Folha de S. Paulo publicou reportagem, dias atrás, dando conta de que a
compra e venda de ações na Bolsa traduzem imensa descrença com a economia
Desde início do ano, os investidores vêm preferindo substituir papeis de
empresas de consumo interno e por exportadoras.
Essa é uma variável que se interpõe à ânsia da equipe econômica
ultraliberal de demonstrar a viabilidade de suas receitas num país periférico, embora
considerado emergente, como o Brasil.
Seria o “case” de sucesso que ainda não existe em lugar nenhum do mundo.
E disso parecem estar cientes os detentores do grande capital que especulam na
Bolsa.
Também os arautos do ultraliberalismo na grande mídia se mostram apreensivos,
tamanha a ginástica mental diária em favor da agenda regressiva do governo, em
nome de um ansiado equilíbrio fiscal às custas de direitos fundamentais dos que
vivem do trabalho.
Mesmo o complexo midiático Globo, com o qual o capitão presidente
continua às turras, critica o governo, mas preserva a agenda econômica.
Pois bem. Sabe-se o peso das grandes
redes de varejo em nossa economia. Se caem de cotação da Bolsa é porque não
acenam com muitas possibilidades imediatas, tamanha a retração do consumo.
Daí o drama atual das Lojas Americanas,
Magazine Luiza, Lojas Renner e Via Varejo e outras.
Segundo a citada reportagem da Folha,
também vêm se desvalorizando as ações de administradoras de shoppings, como
Iguatemi, BR Malls e Multiplan.
Em dimensão semelhante, padece o
segmento industrial – vetor essencial do crescimento econômico -, defasado
tecnologicamente, com baixa competitividade no mercado internacional e carente de
propostas concretas da parte do governo.
Ou seja, não há sinais de recuperação
da economia. Ao contrário, as previsões de crescimento do PIB para este ano,
que inicialmente beiravam os 3% - sob o impacto da vitória eleitoral d a
extrema direita -, já se reduzem a 1,3%.
Assim, a realidade objetiva teima em pedir
um projeto nacional de desenvolvimento, sem o qual o Brasil seguirá patinando e
perdendo terreno na complexa economia globalizada dos nossos dias – nosso destino
inevitável nos marcos do governo Bolsonaro.
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