Brasil 'cantando
galinha'
Presidente oferece Alcântara de mãos
beijadas
Rogério Cezar Cerqueira Leite, na Folha de S. Paulo
Na
primeira metade do século passado era comum aos domingos, no interior paulista
e mineiro, em vez da missa, sitiantes e moradores de pequenas cidades se reunirem
em torno de rinhas de galos.
O dono do perdedor por vezes interrompia o combate. Em outras ocasiões, a luta prosseguia até o fim, ou seja, com a morte de um dos contendores. Havia, entretanto, raras vezes em que o galo perdedor anunciava sua rendição com um cacarejo baixo, agudo e sofrido. Dizia-se que “cantou galinha”. O destino do galo que canta galinha é a panela.
Logo depois do fim do regime militar houve no Congresso, durante a Constituinte, uma discussão sobre definição da indústria nacional. Convocado, defendi a distinção entre empresa de capital nacional e empresa multinacional. Perdi, e o Brasil cantou galinha. Havia pressão dos americanos.
Com isso, o país perdeu a possibilidade da eventual proteção de sua indústria, como todos os países, inclusive os desenvolvidos, praticam.
À mesma época fui convidado a defender a reserva de mercado para minicomputadores. Fui derrotado. A pressão dos Estados Unidos foi imensa. O Brasil cantou galinha mais uma vez, pois foi aniquilada a nascente indústria digital brasileira.
Em seguida veio o debate sobre o Sivam, cujo contrato permitia aquisição de equipamentos e serviços em qualquer país, exceto no Brasil. Novamente lá fui eu ao Congresso para ser derrotado. E o Brasil cantou galinha mais uma vez.
Na semana seguinte esta Folha noticiou a avalanche de ementas pagas aos projetos dos parlamentares que apoiaram o Sivam. E a nascente indústria nacional de radares e sensores foi para o brejo.
O dono do perdedor por vezes interrompia o combate. Em outras ocasiões, a luta prosseguia até o fim, ou seja, com a morte de um dos contendores. Havia, entretanto, raras vezes em que o galo perdedor anunciava sua rendição com um cacarejo baixo, agudo e sofrido. Dizia-se que “cantou galinha”. O destino do galo que canta galinha é a panela.
Logo depois do fim do regime militar houve no Congresso, durante a Constituinte, uma discussão sobre definição da indústria nacional. Convocado, defendi a distinção entre empresa de capital nacional e empresa multinacional. Perdi, e o Brasil cantou galinha. Havia pressão dos americanos.
Com isso, o país perdeu a possibilidade da eventual proteção de sua indústria, como todos os países, inclusive os desenvolvidos, praticam.
À mesma época fui convidado a defender a reserva de mercado para minicomputadores. Fui derrotado. A pressão dos Estados Unidos foi imensa. O Brasil cantou galinha mais uma vez, pois foi aniquilada a nascente indústria digital brasileira.
Em seguida veio o debate sobre o Sivam, cujo contrato permitia aquisição de equipamentos e serviços em qualquer país, exceto no Brasil. Novamente lá fui eu ao Congresso para ser derrotado. E o Brasil cantou galinha mais uma vez.
Na semana seguinte esta Folha noticiou a avalanche de ementas pagas aos projetos dos parlamentares que apoiaram o Sivam. E a nascente indústria nacional de radares e sensores foi para o brejo.
E
aí veio a obscena lei de propriedade industrial. Eu, fazendo o meu habitual
papel de nacionalista bobo da corte, lá fui ao Congresso Nacional. Obviamente,
fui derrotado.
O
Ministério da Ciência e Tecnologia, da mesma administração federal FHC,
constatou que 1.050 estações de produção do setor de química fina foram
extintas e 350 novos projetos, abandonados. E o Brasil já estava ficando rouco
de cantar galinha em rendição às ameaças do ogro americano, cujo governo,
contrariamente do que faz o brasileiro, coloca todo o seu poderio a serviço de
suas empresas, pois é lá que reside o próprio poder americano.
Chega então ao Congresso Nacional a proposta de ocupação de Alcântara por uma base militar americana. Para lá fui. Eis que o Brasil decide preservar a soberania nacional. Uma vitória, enfim. O que as ditas autoridades não percebem é que o que é válido para o galo de briga, também o é para o cidadão, para a tribo, para a nação. Os americanos, como todos os povos, desprezam os submissos, os serviçais.
Pois bem, agora, para adoçar a boca da América, o presidente do Brasil oferece Alcântara de mãos beijadas, abdica da simbólica relação de reciprocidade entre iguais no uso de passaporte e, muito pior, vai, ele próprio, o presidente, beijar as mãos do chefe da CIA, a organização que tem como missão a espionagem, a vigilância e a “sabotagem” de interesses de outros países, tais como o Brasil. O destino daqueles que “cantam galinha” é a panela.
Chega então ao Congresso Nacional a proposta de ocupação de Alcântara por uma base militar americana. Para lá fui. Eis que o Brasil decide preservar a soberania nacional. Uma vitória, enfim. O que as ditas autoridades não percebem é que o que é válido para o galo de briga, também o é para o cidadão, para a tribo, para a nação. Os americanos, como todos os povos, desprezam os submissos, os serviçais.
Pois bem, agora, para adoçar a boca da América, o presidente do Brasil oferece Alcântara de mãos beijadas, abdica da simbólica relação de reciprocidade entre iguais no uso de passaporte e, muito pior, vai, ele próprio, o presidente, beijar as mãos do chefe da CIA, a organização que tem como missão a espionagem, a vigilância e a “sabotagem” de interesses de outros países, tais como o Brasil. O destino daqueles que “cantam galinha” é a panela.
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