23 abril 2019

Subjetividade na luta política


Giulio Turcato
Razão e emoção em tempos distintos
Luciano Siqueira

Inúmeras são as teses sobre campanha eleitoral. Com um risco recorrente: a tendência a "generalizar" certos fenômenos presentes numa disputa específica, como se tivessem status de lei objetiva...
Aqui na província, num dado momento houve a oportunidade factual do combate a uma candidatura momentaneamente favorita através da "desconstrução" da imagem do candidato, com resultado fulminante. O “alvo” era sabidamente envolvido em situações condenáveis, incluindo a autoria material de um crime de morte.
Desde então alguns "marqueteiros" e atores políticos proeminentes passaram a adotar como estilo tático permanente a fórmula "sangue e lama".
Nada mais equivocado.
Agora mesmo, a vitória da extrema direita no último pleito presidencial vem dado ensejo a "teses" as mais estapafúrdias. 
Uma delas: hoje o povo não vota em candidatos que apresentem programas, há que se achar um “mote” que sensibilize a maioria. Bolsonaro prometeu matar bandidos e liberar o porte de armas. Venceu por causa disso (sic).
Nessa mesma linha de superficialidade, há muita ansiedade — no seio da militância oposicionista — quanto a uma desejada sincronia entre rapidez na queda de popularidade do governo e do presidente e o ânimo combativo do povo.
Paciência, gente. Razão e emoção caminham juntas, mas em ritmo diferenciado. 
O divórcio emocional entre a maioria do eleitorado e o presidente avança na medida em que se acumulam "decepções" — como a subtração do cálculo inflacionário no reajuste do salário mínimo, por exemplo.
A reforma da Previdência, tal apresentada pelo governo, tem também um imenso poder corrosivo.
Já a reação consciente, traduzida em lutas coletivas amplas, ressurge paulatinamente, na medida em que vai ficando claro o conjunto da obra.
A ação oposicionista organizada pode ser o fator consciente a estimular a resistência — sobretudo se convergente e unitária.
Mas aí reside uma enorme limitação. A partir das forças de esquerda, muita energia é gasta na exploração de divergências e na busca de uma desejada hegemonia, em prejuízo da construção de uma plataforma comum.
Também aí a ansiedade desconhece a distinção de ritmo entre a emoção e a razão.
Mas a realidade concreta tende a falar mais alto. A pressão surda das ruas terminará arrastando as forças organizadas para a luta. Como já aconteceu em outras conjunturas.
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