Baptistão
Tite deixou de ser novidade
e patina nas decisões tomadas
O técnico da seleção brasileira está
na dependência de pessoas inconfiáveis
Juca Kfouri, na Folha de S. Paulo
Primeiramente,
é preciso dizer, como falavam nossas avós, sua alma, sua palma.
Tite escolheu
ser treinador da CBF mesmo
depois de ter assinado um manifesto pela renúncia de Marco
Polo Del Nero e
pela democratização na entidade.
Ao
aceitar o posto, chegou a beijar, ou a ser beijado, pelo então presidente da
Casa Bandida do Futebol, numa cena desnecessária para quem chegava como
salvador de pátria.
Pátria
que salvou, diga-se a bem da verdade, ao cumprir trajetória mais que perfeita
nas eliminatórias para a Copa
da Rússia,
tanto do ponto de vista dos resultados quanto da qualidade de futebol
apresentado.
Na
Copa propriamente dita não se pode dizer o mesmo, embora a participação
brasileira não tenha sido um fiasco e a eliminação,
diante da Bélgica,
acontecida num dos melhores jogos do torneio.
Em
Sochi, o balneário erradamente escolhido pelos estrategistas da CBF, os
problemas começaram a acontecer a olhos vistos, com privilégios inaceitáveis,
já sem a presença do Marco Polo que não viaja.
Papai
Neymar agia como eminência parda e o filhote tinha tratamento especial.
Tite
é boa pessoa e é fácil exigir sacrifícios com pescoço alheio. Dizer não ao
cargo mais cobiçado entre os treinadores do mundo é para poucos —e Muricy
Ramalho,
por paus ou por pedras, acabou sendo um—, e exigir coerência deve começar
sempre por nós mesmos, embora, repita-se, tudo teria sido menos
complicado caso Tite não tivesse assinado o manifesto.
complicado caso Tite não tivesse assinado o manifesto.
Só
que o pior veio no pós-Copa. Mantido no topo da seleção pelo beneficiado do
Golpe Caboclo, Tite deixou de ser novidade, viu seu time fazer apenas
apresentações pífias, sentiu o peso do desgaste de imagem exageradamente
exposta e, pior, começou a passar a mão na cabeça
de Neymar, o capitão
que não capitaneia, só dá vexame.
Já
foi expulso com jogo terminado, já virou meme na Copa e agora deu para socar
torcedor. Inimaginável para Hideraldo Luiz Bellini, Mauro
Ramos de Oliveira e
Cafu, os capitães de 1958/62 e 2002.
Imaginável
para Carlos
Alberto Torres e Dunga, os das Copas
de 1970 e 1994, também de pavio curto, mas que nunca cometeram tamanha
covardia.
“Tô
errado. Estou. Mas ninguém tem sangue de barata”, nem se desculpou o craque,
cujo tipo de sangue é menos importante do que o cérebro de ameba. Porque ainda
teve o desplante de puxar as orelhas dos jogadores jovens do PSG depois da
derrota na final da Copa da França para o pequenino Rennes.
Disse
que eles precisavam ouvir mais e falar menos, se espelhar nos veteranos.
Como
Neymar fez em seu começo no Santos? Como quando, nove anos atrás, aos 18,
desrespeitou publicamente o técnico Dorival Júnior e ouviu do treinador
adversário, Renê Simões, que “estamos criando um monstro”?
Exatamente
aí reside o problema de Tite. Seguirá dispensando tratamento principesco ao
Peter Pan? Se resolver aplicar-lhe um corretivo, terá respaldo de seus
superiores para punir o Pequeno Príncipe?
Papai
Neymar seguirá no papel de eminência parda para que Caboclo e o
secretário-menor ponham panos quentes?
Já
não passou da hora de vir a público repudiar a agressão do pugilista peso filé
de borboleta? Ora, que os cartolas que nos assolam se submetam aos caprichos e
grosserias da dupla Neymar é compreensível.
Vivem
disso e de bajular os poderosos. Mas Tite nunca foi assim. Corre o risco de
virar Geni.
“Joga
pedra na Geni! Ela é feita pra apanhar! Ela é boa de cuspir!”.
Tomara
que não.
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