Por
que tanto gol no último minuto?
Luciano Siqueira
Ouço agora
na Rádio Tupi, do Rio, o ex-craque Gerson indignado com a frequencia com que o Vasco
da Gama toma gol do adversário no último minuto. O grande Newton Santos, lembra
ele, faltando cinco minutos para terminar a partida, com o time em vantagem,
gritava: “Acabou, acabou!”
Era o sinal
para prender a bola no campo adversário. Matar o tempo. Evitar uma surpresa
desagradável.
Mas não é só
com o Vasco que tem acontecido isso. Muitos outros times considerados grandes
padecem do mesmo descuido. Como o Atlético Paranaense que deixou o Flamengo
fazer 3x2 no último minuto dos descontos, hoje mesmo, no Maracanã.
E os de
menor porte mais ainda.
Cá entre
nós, o Náutico fez dessa fragilidade uma espécie de marca própria, histórica.
Ontem, o ABC
de Natal permitiu que o Santa Cruz fizesse o seu segundo gol no último minuto.
Na verdade
isso acontece não só aqui em nosso sofrido país tropical. Mundo afora, idem. Inclusive
no supercompetitivo futebol da Inglaterra.
Alguém pode argumentar
esse “detalhe” é uma contingência do futebol. A disputa vale até o fim. E nem
sempre quem está em vantagem tem a competência técnica e o controle emocional
para fazer a cera necessária.
Imagino que
o que falta mesmo é uma liderança em campo, no time que se deixa vazar no último
minuto. Uma voz de comando – mais até do que a palavra de ordem vinda do banco,
pela voz do treinador. Como fazia Newton Santos.
É ali no
gramado, no calor da peleja, que é preciso que alguém ponha a bola debaixo do
braço e segure o jogo. Que fure a bola, por assim dizer.
Mas inequívoca
é emoção gerada por essa possibilidade de mudança do placar no último minuto. Tensão
nas arquibancadas. Uns cruzam os dedos, outros apelam até à mais reles
superstição e si desistem ao último apito.
Assim, por
mais científico que tenha se tornado o futebol, apoiado na força física e na
ocupação dos espaços no campo, quase limitando a chance de um belo drible ou
uma triangulação de estilo, a chance de vencer ou perder no finzinho do jogo
apaixona.
[Ilustração: Blog Mundo condor]
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