Rogério Cezar de Cerqueira Leite
escreve "Carta a um jovem brasileiro"
Em seu
texto no jornal Folha de S.
Paulo, Rogério Cezar de Cerqueira Leite — físico, professor emérito da
Unicamp, membro do Conselho Editorial da Folha e presidente do Conselho de
Administração do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais) —
diz que que gostaria de escrever uma carta sobre poesia, embora sem o talento
do alemão Rainer Maria Rilke, sobre a importância da literatura, das artes, do
conhecimento; enfim, sobre tudo o que enriquece a humanidade.
Portal
Vermelho
“Mas eis que nossos líderes agridem tudo que
alicerça a cultura de um povo, tal seja a filosofia, a sociologia, a história”,
escreve. “Eu queria escrever-lhe sobre a dádiva da natureza ao brasileiro,
sobre as nossas matas, os nossos rios, a nossa fauna e a nossa rica e bela
biodiversidade, afirma. “Pois bem, nossos dirigentes não apenas corrompem as
providências para amenizar as inexoráveis e trágicas consequências do aquecimento
global como também incentivam o desmatamento e a poluição da atmosfera”,
complementa.
E prossegue dizendo que queria falar ao jovem brasileiro da dignidade do trabalho e da necessidade de conhecimento para enfrentar a dinâmica implacável do progresso tecnológico. “Entretanto, esse novo governo asfixia nossas universidades com cortes de verbas e obtusa perseguição”, afirma. Diz ainda que queria falar de ciência e tecnologia, da consequente industrialização do nosso país e dos benefícios sociais e econômicos que adviriam de investimentos em pesquisas. “Mas esses nossos governantes continuam a desindustrialização começada nos governos Collor e FHC, cortando recursos para ciência, tecnologia e formação pós-graduada, sem o que não haverá industrialização possível já em futuro próximo”, lamenta.
E segue: “Eu queria escrever-lhe sobre o valor da cidadania, da liberdade, sobre a decência do homem de bem. Porém, “esses arremedos de déspotas” que presidem sobre esta nação liberam a posse de armas, cooptam e protegem milicianos, homenageiam extorsionários e torturadores, estimulam a violência. Eu gostaria de poder falar-lhe sobre nosso país, sobre nossa história, nossa arte, nossos escritores, nossa música, nossas conquistas. Mas não posso. Nosso país se curva aos interesses imperialistas dos EUA.”
“Eu queria falar-lhe do ideal de justiça, da solidariedade. Contudo, só vejo ostentação, narcisismo. Juízes vivendo em palácios “nababescos”, servidos a lagostas, pagas com o suor do trabalhador brasileiro. O que um juiz do Supremo come de lagosta e bebe de vinho importado, diariamente em uma única refeição, equivale ao que come por mês uma família que vive com salário mínimo. E, ao contrário de suas excelências, o cidadão brasileiro paga por suas refeições. Eu pensava em conversarmos sobre seu futuro, seus sonhos. E olho para nossos congressistas, supostos guardiões da cidadania e de seu porvir. E só ostentam escandalosa cupidez.”
E conclui: “Confesso que eu queria inculcar-lhe, jovem brasileiro, uma certa compulsão por justiça social, um certo interesse pelo próximo e pelo distante, um pouco de civilidade enfim. Mas seria um esforço perdido, tendo em vista a dominação intelectual e ideológica desse governo por um farsante, obsceno e fascista, uma espécie de Rasputin de bordel. Eu gostaria de encontrar alguma palavra de alento para apaziguá-lo. Eu não queria ser cínico ou parecer desalentado, derrotado. Seria talvez bom se eu pudesse fingir, mentir um pouco. Mas não. Só posso pedir-lhe que me perdoe, e a todos aqueles das gerações que precederam a sua, pelo que lhe subtraíram e talvez também pelo que lhe ensinaram.”
E prossegue dizendo que queria falar ao jovem brasileiro da dignidade do trabalho e da necessidade de conhecimento para enfrentar a dinâmica implacável do progresso tecnológico. “Entretanto, esse novo governo asfixia nossas universidades com cortes de verbas e obtusa perseguição”, afirma. Diz ainda que queria falar de ciência e tecnologia, da consequente industrialização do nosso país e dos benefícios sociais e econômicos que adviriam de investimentos em pesquisas. “Mas esses nossos governantes continuam a desindustrialização começada nos governos Collor e FHC, cortando recursos para ciência, tecnologia e formação pós-graduada, sem o que não haverá industrialização possível já em futuro próximo”, lamenta.
E segue: “Eu queria escrever-lhe sobre o valor da cidadania, da liberdade, sobre a decência do homem de bem. Porém, “esses arremedos de déspotas” que presidem sobre esta nação liberam a posse de armas, cooptam e protegem milicianos, homenageiam extorsionários e torturadores, estimulam a violência. Eu gostaria de poder falar-lhe sobre nosso país, sobre nossa história, nossa arte, nossos escritores, nossa música, nossas conquistas. Mas não posso. Nosso país se curva aos interesses imperialistas dos EUA.”
“Eu queria falar-lhe do ideal de justiça, da solidariedade. Contudo, só vejo ostentação, narcisismo. Juízes vivendo em palácios “nababescos”, servidos a lagostas, pagas com o suor do trabalhador brasileiro. O que um juiz do Supremo come de lagosta e bebe de vinho importado, diariamente em uma única refeição, equivale ao que come por mês uma família que vive com salário mínimo. E, ao contrário de suas excelências, o cidadão brasileiro paga por suas refeições. Eu pensava em conversarmos sobre seu futuro, seus sonhos. E olho para nossos congressistas, supostos guardiões da cidadania e de seu porvir. E só ostentam escandalosa cupidez.”
E conclui: “Confesso que eu queria inculcar-lhe, jovem brasileiro, uma certa compulsão por justiça social, um certo interesse pelo próximo e pelo distante, um pouco de civilidade enfim. Mas seria um esforço perdido, tendo em vista a dominação intelectual e ideológica desse governo por um farsante, obsceno e fascista, uma espécie de Rasputin de bordel. Eu gostaria de encontrar alguma palavra de alento para apaziguá-lo. Eu não queria ser cínico ou parecer desalentado, derrotado. Seria talvez bom se eu pudesse fingir, mentir um pouco. Mas não. Só posso pedir-lhe que me perdoe, e a todos aqueles das gerações que precederam a sua, pelo que lhe subtraíram e talvez também pelo que lhe ensinaram.”
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