19 maio 2019

Brasil na Copa América


Tite convocou veteranos que dificilmente estarão bem no próximo Mundial
Daniel Alves, Miranda, Thiago Silva, Fernandinho e Filipe Luís terão idade avançada no Qatar
Tostão, na Folha de S. Paulo

No início da Copa de 2018, a Folha mostrou, com expressivos números, que Marcelo iniciava a maioria das jogadas ofensivas da seleção e, ao mesmo tempo, era o jogador que mais perdia a bola e que, por seu lado, ocorria a maior parte dos ataques adversários.
A deficiência na marcação pelo lado esquerdo não era somente por causa de Marcelo. Coutinho, no meio-campo, pela esquerda, ajudava pouco o lateral. Neymar, do mesmo lado, também não voltava para marcar.
Durante o Mundial, Marcelo se contundiu e foi muito bem substituído por Filipe Luís, que marca melhor.
Tite ficou com uma grande dúvida, no jogo seguinte, sobre quem escalar e optou por Marcelo, por causa de seu imenso talento ofensivo. Pela esquerda, o Brasil tinha o melhor trio do mundo para atacar, formado por Marcelo, Neymar e Coutinho, e também uma grande deficiência na marcação.
Contra a Bélgica, Tite percebeu, nos primeiros minutos, que o centroavante Lukaku jogava nas costas de Marcelo e deslocou Miranda para marcá-lo. Fechou o lado e abriu o meio, por onde De Bruyne avançou e fez o segundo gol. Imagino que Tite sonhe até hoje com o jogo e que lamente não ter escalado Filipe Luís.
Perto do Mundial de 2018, Tite disse que, se tivesse tempo, teria experimentado Marcelo no meio-campo, pela esquerda. Por que não tentou fazer isso depois da Copa? E ainda deixou Marcelo fora da
Copa América.
Penso que o problema de marcação do lado esquerdo seja atenuado com Felipe Luís, mas não resolve, se Coutinho e Neymar não participarem da marcação. Uma opção, usada em alguns momentos na Mundial e que pode ser repetida na Copa América, é formar uma linha de quatro no meio-campo, com Coutinho pela esquerda e Neymar mais livre, mais centralizado, do meio para frente, como atua no PSG.
Prefiro Neymar pela esquerda, entrando em diagonal, mais próximo do gol, como brilhou no Santos e no Barcelona. Pelo centro, como um meia de ligação, costuma driblar no meio-campo, onde não deve, dando o contra-ataque ao adversário. 
Outra opção é jogar como um segundo atacante, mais perto do centroavante, no esquema 4-4-2.
Tite convocou vários jogadores mais veteranos, que estão em forma, mas que, dificilmente, estarão bem na Copa do Mundo, como Daniel Alves, Miranda, Thiago Silva, Fernandinho, Filipe Luís, que é mais velho que Marcelo. Daniel Alves terá 39 anos. 
Neymar nunca deveria ter sido capitão da seleção, mas achar que ele não deveria ser convocado para puni-lo, por causa de sua agressão e idiotices fora de campo, não faz sentido. Ele é a esperança de o Brasil ter um time mais forte, no nível das melhores seleções do mundo.
Vinicius Júnior poderia ter sido chamado, pensando na Copa de 2022. Para a Copa América, há outros que merecem mais. Ele já voltou a jogar há várias semanas. 
Fora Neymar, os outros convocados para atuar pelos lados (David Neres, Richarlison e Everton) são muito bons, vivem ótimos momentos, mas Vinicius Júnior é o único que, pela idade e pelo talento, tem chance de se tornar, nos próximos anos, um craque, um destaque mundial. Ainda está longe de ser.
O que mais falta ao Brasil é ter, além de Neymar, mais um ou dois meio-campistas de primeiro nível que marcam e atacam, como De Bruyne e Pogba, ou atacantes, como Suárez, Mbappé, Hazard. É preciso antever, pensar na frente, na Copa do Qatar. “O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo.” (Manoel de Barros)
[Ilustração: Juliane Mercante]
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