15 outubro 2020

Os que carregam o "piano"

EDUCAÇÃO: RESPEITEM MEUS CABELOS BRANCOS!

Wallace Melo*

 

O atual panorama de pandemia remeteu aos professores(as), em todas as regiões, numerosos e singulares desafios, implicando em mudanças radicais nas suas rotinas e práticas pedagógicas. A arquitetura das salas de aulas foram transformadas, as telas e a internet, tornaram-se as principais ferramentas capazes de proporcionar a interação escolar, porém, assim como muitos estudantes, principalmente os(as) pertencentes ao ensino público, que tiveram dificuldades profundas no acesso ao ciberespaço, vários educadores(as) também não conseguiram se adaptar às “novidades impostas” pelo processo de isolamento social de maneira tão rápida e/ou automática.

Na educação e em muitas outras áreas, a pandemia descortinou as profundas contradições enraizadas no contexto socioeconômico brasileiro. Aumentou as desigualdades, sobretudo as regionais, ampliou o abismo já preocupante entre o ensino público e privado, e maximizou a jornada diária de trabalho dos professores e professoras, nas mais variadas formas (fazer planejamentos, gravação/edição de vídeos, elaboração de materiais e atividades virtuais, correção de exercícios, avaliação virtual, reuniões fora do horário de trabalho, manejo das plataformas educacionais, planilhas, acompanhamento pedagógico etc.).

E frente um ambiente desregulamentado e com uma excessiva rotina de trabalho, nossos(as) professores(as) foram obrigados a reinventar o seu fazer educacional

Porém, numa perspectiva romantizada, esse renascer profissional facilmente pode ser percebido à luz de predicados relacionados à resiliência, dedicação, ressignificação etc. Mas permitam-me não adentrar a esses expedientes, mesmo que sejam relevantes.

Quero assim, dedicar nas linhas seguintes, atenção aos novos contexto educacionais, mas, dispensando olhares quixotescos e prendendo atenção aqueles(as) que, frente às diversas mudanças ocorridas, conseguiram superar seus limites tecnológicos e, sobretudo geracionais.

E com a máxima vênia, dedico este singelo artigo, aos colegas professores(as), mas com a especial atenção e com todo respeito devido, a “velha guarda” educacional.

Ora, se o ensino remoto está sendo oneroso aos professores e professoras em geral, quando focamos atenção aos colegas que atuam, nas redes públicas ou nas escolas particulares, por duradouras décadas, a análise acerca do trabalho merece uma atenção mais qualificada.

E frente ao ambiente de comemorações, devido ao dia do(a) professor(a), 15 de outubro, quero, com essas palavras, homenagear aos mestres(as) que, após tantos anos dedicados ao magistério, educando e construindo saberes com várias gerações, se viram, literalmente perdidos e, em dados casos, com a autoestima afetada, após a imposição das rotinas remotas e virtuais.

Um momento novo que implicou em lágrimas, esforços, danos à saúde mental, sensação de impotência e, até mesmo incompetência frente à nova realidade apresentada, que, na maioria dos casos, não respeitou as particularidades e as limitações naturais de tantos(as) professores e professoras, sobretudo aqueles(as) que tanto contribuíram nas diversas realidades escolares. E os relatos sobre de tal situação, são lamentáveis.

Nossos amados(as) mestres(as), com quem tanto aprendemos, nesse contexto de pandemia, tiveram que amargar demissões, humilhações, afastamento temporário do afazeres, sob a pasmem justificativa de serem “obsoletos” ou por terem sidos “engolidos” pela hodierna escola tecnológica.

Mas enganam-se aqueles(as) que comungam com essas ideias. Pois se é bem verdade que uma nova escola, híbrida e tecnológica chegou, e permanecerá em nossos dias, também é verídico que, nem os(as) mais jovens professores(as), nativos ou ambientados ao mundo digital, conseguirão atingir, a curto prazo, a maestria e excelência desses(as) nossos(as) mestres(as), que construíram uma expertise pedagógica ao longo dos tantos anos de magistério, unindo, sobretudo, a experiência dos fazeres didáticos ao conhecimento científico acumulado.

A sabedoria não se fabrica automaticamente, ela se constitui com o tempo e na maturação certa. É por isso, que a vocês mestres(as), ao contrário dessa ultrajante realidade apresentada, oferto aqui, nessas linhas, meu carinho, admiração, reverência e respeito, aos “seus cabelos brancos”! Sintam-se por mim, reconhecidos(as), valorizados e abraçados(as)!

*Professor, diretor do Sinpro

Desemprego no centro da batalha eleitoral https://bit.ly/2X75FJ6  

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