A casa de
Vovó
Por Roberta (como eles me chamavam)
Melka
Pinto*
Eu acho a memória a coisa mais preciosa que a
gente tem, depois da vida em si, a memória do que já foi vivido, sentido, doído
vale muito. Eu sempre tive uma boa memória, tão boa que às vezes acho que passo
até vergonha, como encontrar uma pessoa 15 anos após ter visto pela última vez
e cumprimentar como se fosse ontem, acho que já assustei algumas pessoas. Às
vezes do nada me vem memória de imagens, sensações, momentos, como se pudesse
ver passando na frente dos meus olhos. É bom, às vezes bate uma melancolia, às
vezes saudade, mas é a vida vivida.
É bom lembrar por exemplo da casa da minha avó
materna em Itamaracá, de todos os detalhes, era uma casa simples, metade de
tijolos, metade de "taipa", com telhas, tinham gaiolas espalhadas
pelo teto, não lembro muito bem de tudo, mas guardo com carinho memórias da
cadeira de balanço da sala, do rádio que ficava do lado esquerdo do corredor
que meu avô anotava o resultado do jogo do bicho, lembro da voz que anunciava o
resultado como se fosse hoje, na cozinha lembro da parte de baixo da pia, lá em
época como essa, sempre tinha muitas mangas atrás da cortininha.
Mas a maior lembrança é do quintal, parque de
diversão pra mim, tinha entulho, tinha um poço, pé de manga e de jambo rosa, um
tanque de cimento, do lado esquerdo da porta da cozinha que dava acesso ao
quintal tinha um lixo e perto tinha os potinhos de comida dos gatos, tinha
muitos gatos lá também. Essas memórias ativam sentimentos de amor em mim,
Iemanjá por exemplo é familiar pra mim por causa de lá, sempre que acordava
tinha um quadro na minha frente com a imagem dela. E se sair da casa, posso
também lembrar dos meus avós (Zé Guedes e Lourinha) sentados na calçada à
noite, na companhia muitas vezes de Zé Quito.
Até hoje gosto de coxinha com guaraná antártica
porque lembro de fazer esse lanche quando chegava lá de viagem, a coxinha tinha
a casca bem durinha, o recheio era farto, vinha enrolada naqueles papéis
marrons, que não sei especificar o tipo, e o refrigerante era de KS com
canudinho.
Memórias podem ser prisões, mas também podem ser
um lugar seguro e feliz no espaço-tempo que oferece conforto e paz. Proteja as
suas.
*Melka Pinto, ex-presidente da União dois Estudantes de Pernambuco-UEP,
é enfermeira na rede pública.
[Ilustração: ]
Nenhum comentário:
Postar um comentário