A pedagogia da frente ampla: unidade, tática e compromissos
Wallace Melo
Ao tratar sobre algumas experiências
vivenciadas no Chile, o professor Paulo Freire explicou que em dados momentos,
é preciso juntar os diferentes para combater o antagônico. Uma afirmativa que,
embora distanciada por mais de cinco décadas de nossa atual realidade, tem o
potencial de nos ensinar importantes lições, sobretudo acerca do caráter
pedagógico do advento de frentes amplas, haja vista as conturbações políticas;
É bem verdade que a convergência de
diferentes forças em uma só frente ampla, não é algo tão simples, a ponto de
reduzirmos os movimentos a meras alianças pontuais. Quem acredita nisso, está
incorrendo em gravíssimos erros de análise. Nesse sentido, é importante
perceber e atribuir atenção especial aos motivos que causam a emergência de coalizões
políticas de amplitudes maiores e plurais.
Quando se estabelece uma circunstância que
implica o surgimento de frentes amplas, é porque, com absoluta certeza, temos
um horizonte pautado por correlações de forças desproporcionais, tendo assim, o
hegemonismo exacerbado em um ou poucos polos de poder, em detrimento dos demais
grupos ou frações políticas. Analisar bem a natureza desse ambiente
desfavorável para muitos é um exercício primordial para entendermos os porquês
da instituição de movimentos com maiores amplitudes.
Ora, não é prejuízo dizer aqui que, se uma
determinada força política reunisse sozinha, as condições e força para derrotar
quaisquer circunstâncias hegemônicas, assim ela a faria, sem a anuência de
outras formas de organizações ou agremiações.
Contudo, o exercício de unir diferentes
visões, na intenção de resistir e combater determinada realidade não é fácil
para qualquer organização política, sobretudo aquelas que cultivam princípios
filosóficos e conteúdos programáticos mais sólidos. Porém, mesmo percebendo as
dificuldades para essas movimentações, também é importante salientar que esses
expedientes são potencialmente ricos em aprendizados, experiências e,
principalmente, para reafirmar, dentro dos nossos fronts, alguns compromissos ideológicos.
No escopo das alianças políticas e na
construção de uma frente ampla, como diz o camarada Luciano Siqueira, “dá-se a
unidade e a luta ao mesmo tempo”. Ou seja, é compor e marchar junto ao conjunto
de setores envolvidos, respeitando a diferença entre os presentes e sempre
reafirmando e defendendo seus valores e concepções ideológicas e
estratégicas. Um instrumento de singular importância que contribui bastante
para o sucesso das movimentações aliancistas, se estabelece na construção de
conteúdos programáticos que sirvam de alicerce e intersecção entre os
envolvidos.
Já o camarada Renato Rabelo já sinalizou a
outrora que uma “aliança é compromisso político e não ideológico”. Reflexão
essa de suma relevância, sobretudo no entendimento da tática.
Outro elemento pertinente ao debate posto se
estabelece com as possibilidades trazidas pelas movimentações aliancistas para
construção de uma frente ampla é a capacidade de mobilização popular, pois são
por meio desses expedientes plurais e democráticos, que aumentam as
possibilidade de aglutinação das massas e diferentes setores que, comumente não
dialogamos ou não estão dispostos em nossos radares.
E por qual motivo esse fato é relevante? A
frente ampla promove diferentes lampejos de consciência política, normalmente
embasado em fatores mais pontuais, economicistas ou de interesses pragmáticos.
Contudo, é oportuno aproveitarmos esse movimento para reforçar a defesa por um
programa mais amplo e fundamentado, sobretudo nas concepções revolucionárias e
socialistas.
Ou seja, ao invés de nos embebedarmos nas
críticas infundadas, rasas ou vazias, que em muitos termos, nada dizem ou só
alimentam um falso criticismo pequeno burguês, é possível, nos expedientes mais
amplos, avançarmos – nos dizeres de Engels – metodicamente na condução de uma
luta embasada teórica, política e economicamente classista. Trazendo assim
análises mais complexas e cientificamente embasadas. Ora, “sem teoria
revolucionária, não há movimento revolucionário”, assim percebia Lênin.
Dessa maneira, é imperioso combater algumas
opiniões oportunistas que circulam (rapidamente) em nossos meios, que o
estabelecimento de uma frente ampla, signifique ou reduza-se a acordos pontuais
ou a efetivação de barganhas axiomáticas. Pelo contrário. No exercício de diálogo
com os diferentes, temos mais a obrigação de reafirmar nossos compromissos
programáticos e ideológicos, e por meio desses, apontar, na centralidade da
política, o necessário combate às causas geradoras e antagônicas à frente ampla.
Wallace Melo Barbosa – Professor, humanista e secretário de
formação do Sinpro Pernambuco
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