Ruy, por Joana Rozowykwiat
Portal
Vermelho
No fim do ano, o Ruy me ligou. “Joaníssima!”, dizia animado. Contou que
estava escrevendo um texto sobre Clarice Lispector, e bateu nele a saudade de
outra escritora pernambucana, de quem ele também gostava muito. Até demorei a
entender que falava era de mim mesma.
O superlativo ele agregava não só ao nome, mas à sua forma de ver o
outro. Sempre com muita generosidade e entusiasmo. Era um otimista, gostava de
esperançar. Tão sabido e, ainda assim, afeito às partilhas – nem sempre
características que andam juntas.
O Ruy era uma delicadeza, um dente de leão voando por aí. Espalhando
livros no mundo. Que ele emprestava e a gente nunca devolvia.
Escrevendo, escrevendo, escrevendo. Apesar de tudo. Apesar do jornalismo
minguante em nosso tempo. Das notícias cada dias mais aterradoras. Dos olhos
que já não conseguiam direito lhe mostrar o mundo. Mesmo assim ele via. Com
simplicidade e interesse genuíno pelo outro.
Aos 70 anos, permanecia encantado pela juventude e sua potência
transformadora. O mesmo homem que poderia falar de forma despojada sobre a
história do comunismo, também me convidava a escrever junto com ele um curto e
inusitado texto sobre Bob Dylan. Podia conversar por horas sobre tudo e
qualquer coisa.
Ele sempre dizia que me achava inteligente. E, quando falava Joaníssima
– ou Marianíssima – , era pra que a gente pensasse mesmo que era mais. Esse
exagero de gentileza que era o Ruy
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