O PCdoB, a Frente Ampla e
as esquerdas
Marcelino Granja*
As forças democráticas e progressistas da Nação estão chamadas a
apresentarem com urgência uma saída para a tragédia nacional que toma conta do
país: o Governo Bolsonaro e o bolsonarismo, projeto político da parte podre do
capitalismo, o capital financeiro, que deliberadamente agravou os efeitos da
pandemia do novo coranavírus e tenta instalar o caos – para implantar um regime
de natureza fascista. Por isso não temos vacina, não temos economia
funcionando, não temos soberania e nem respeito à democracia, à dor do povo e
aos seus direitos. Esse é o projeto de Bolsonaro.
Como sair dessa situação, sem a derrota do projeto bolsonarista? Como
derrotar a extrema-direita, sem unir o povo contra Bolsonaro? Como unir o povo,
que não seja a partir do reconhecimento de sua diversidade social, étnica,
cultural e política, que torna singular a nossa Nação?
Não é fácil, mas o desafio está posto novamente. E temos as lições da
história a nos ajudar: sempre que unimos o povo em frentes políticas amplas,
representativas de vários segmentos sociais e culturais, às vezes
contraditórios entre si, ganhamos e o Brasil avançou. Foi assim na longa luta
contra a escravatura, nas lutas pela independência e República e nas lutas do
longo período entre 1930 e 1984, pelo desenvolvimento, pela industrialização e
democratização da vida nacional. E foi assim no recente período do ciclo
progressista de Lula-Dilma.
Reconhecemos que as forças políticas nacionais, refletindo a diversidade
da sociedade brasileira, têm projetos distintos para a Nação. Muitas delas, até
do campo da esquerda, nem concordam com aspectos dessa rápida análise
histórico-político aqui apresentada. Contradições sérias existem no nosso
campo, a exemplo de propostas de política econômica e do sistema político, como
quando, com o apoio de forças da esquerda, se aprovou o fim das coligações!!
Isto é, a vedação das alianças, a alma da própria política, trazendo mais
restrições democráticas à união e representação do povo nos parlamentos. Se
somarmos o conjunto das forças democráticas às do campo liberal, vários dos
seus setores apoiaram o golpe do impeachment da Presidente Dilma, sem medir as
consequências da instabilidade que se instalaria e os perigos advindos, que
resultaram na vitória da extrema-direita com Bolsonaro. Muitos deles insistem
nas políticas econômicas neo-liberias, que mantêm o país em crise social e
política permanente.
Para o PCdoB, aparentemente é um pouco mais complicado, pois, orientados
pela ciência social marxista e a experiência histórica da formação nacional,
defendemos mudanças profundas na vida econômica e social do país, a partir de
um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, baseado em reformas estruturais do
Estado (sistemas político, educacional, comunicação, tributário, agrário,
desenvolvimento urbano e social) que o torne forte o suficiente para garantir a
soberania nacional, o desenvolvimento inclusivo e sustentável e a
democratização plena da vida nacional, elevando o status social e político da
classe trabalhadora, abrindo caminho para o estágio superior de
desenvolvimento, o Socialismo.
Mas, qual é estágio da luta no momento? Estamos numa situação política favorável a discutir os rumos estratégicos da Nação, ou temos outras urgências, premissas a serem resolvidas, que abram o espaço para o povo discutir amplamente e com liberdade os caminhos do desenvolvimento? Não achamos que estamos numa situação de avanço da democracia e muito menos das forças da mudança social. Ao contrário, vivemos tempos de regressão, inclusive civilizacional, de perigo de desagregação da Nação e do advento de regime político e econômico despótico. O desastre do país é vitória de Bolsonaro e de setores do capital financeiro, e eles ainda tem forças para levar adiante seus propósitos nefastos.
Assim, o PCdoB propõem que a questão candente que deva concentrar todas
as energias das forças vivas da Nação, seja a formação de ampla frente política
democrática para barrar Bolsonaro, antes de 2022 ou na eleição de 2022, com
base na aliança das forças de esquerda com as de centro e de centro-direita
democráticas. Somente assim teremos vacinação em massa contra a Covid-19, a extensão
do auxílio emergencial e a manutenção do Estado Democrático de Direito da
Constituição de 1988. O PCdoB lutará por essa tática, a nosso ver, a que é
capaz de derrotar Bolsonaro, objetivo maior do momento. A forma política de
constituir uma expressão eleitoral da frente ampla, vai depender de como o
conjunto das forças de esquerda e de centro e centro-direita democrática
percebam os perigos que ameaçam a Nação.
Defendo que façamos tudo para a derrota de Bolsonaro. Desde apoiar uma
candidatura viável logo no primeiro turno, ou, na impossibilidade disso, termos
candidatura própria para lutar pela unidade da oposição.
Mas a luta por esta tática deva ser feita desde já, nas lutas cotidianas
dos movimentos sociais pelos direitos do povo, no apoio aos Governadores e
Prefeitos pela vacinação em massa, no apoio ao Parlamento pela extensão do
auxílio emergencial, na defesa das medidas do STF de proteção da democracia.
As alianças não são concessões, são necessidades da nossa luta, do seu
estagio momentâneo, dos objetivos intermediários ao objetivo maior, o
Socialismo. Temos 99 anos nessa senda. E nessa longa trajetória, já caminhando
para o centenário inédito de um partido no Brasil, a história da República tem
a marca desse pensamento político dos comunistas brasileiros. Esta marca
dialética de nosso pensamento político – unidade ampla do povo nas lutas de
cada momento e objetivo estratégico avançado – está cravada na nossa identidade
e na de diversos segmentos sociais do país. O PCdoB é uma necessidade histórica
e a consciência disso impele os quase 400 mil brasileiros e brasileiras,
filiados ao Partido, à luta pelo nosso lugar político no grande arco-íris da
política nacional. Disso decorre a permanência do PCdoB enquanto tal, com seu
Programa e Estatutos singulares, capazes de absorver parte, como todo partido,
da diversidade social do Brasil.
A luta para afirmar o PCdoB e seu Programa está diretamente relacionada
à luta pela frente ampla democrática contra Bolsonaro. Nessa luta política e de
ideias, não nos diluiremos na frente ampla, renunciando o combate ao
neo-liberalismo e ao nosso projeto estratégico da transição para o Socialismo.
E nem nos pautaremos pelas disputas menores no campo da esquerda, seja pela
impaciência de uns em ocupar açodadamente os espaços perdidos por outros,
desconsiderando e, às vezes, até negando o legado de conquistas em comum
alcançadas, e nem também pelo exclusivismo e hegemonismo de outras. O PCdoB
chagará ao seu centenário em 2022, muito vivo e disposto para a grande luta de
transformação social do Brasil e da humanidade.
*Presidente
estadual do PCdoB/Pernambuco
Veja: Imunidade parlamentar pra quê? https://bit.ly/2ZHFqJV
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