Um aniversário sem bolo, apenas com velas para mortos
Ronaldo Correia
de Brito, em seu site
A data 16 de março de 2020 será
lembrada por mim, enquanto viver. Nesse dia, minha esposa e eu fechamos as
portas de casa para os netos, filhos, familiares, amigos e empregados.
Começamos um isolamento radical, que seria atenuado apenas meses depois.
Meu comportamento em relação à
pandemia de Covid-19 mudou bastante ao longo de um ano. Antes, eu
responsabilizava somente o Governo Federal e seu Ministério da Saúde pela falta
de valorização da ciência, na prevenção e tratamento da doença. O negacionismo,
a irresponsabilidade frente as medidas preventivas, a propaganda de
medicamentos inócuos como a cloroquina, de valor negado por instituições
científicas, a falta de investimentos na rede pública de saúde, tudo isso nos
trouxe ao caos que atravessamos, ao segundo lugar no número de mortos por Covid.
Fui, talvez, o primeiro a
alertar sobre o contágio dessa postura anticientífica no meio médico, no
Conselho Federal de Medicina e noutros conselhos, nas associações médicas e
sindicatos. Radicalmente aderidos ao governo de Jair Bolsonaro e ao
bolsonarismo, as instituições e seus associados embarcaram na antipolítica do
Governo para a pandemia, embora os médicos estivessem individualmente no front
dos ambulatórios e hospitais, arriscando as próprias vidas, heroicamente
solitários.
Apenas em janeiro de 2021, o
Conselho Federal de Medicina, que sempre apoiou o governo Bolsonaro, depois de
carta assinada por cinco ex-presidentes e 14 ex-conselheiros da instituição
cobrando uma postura oficial do órgão, manifestou-se. Embora negando que
houvesse sofrido pressão, o CFM recomendou a vacinação. Vejam que atraso do
órgão supremo dos médicos brasileiros. Mesmo assim, o Conselho não teve coragem
de se posicionar contra os chamados “tratamentos precoces” da
doença. No documento, faz uma recomendação genérica às autoridades brasileiras,
de que garantam aos profissionais “autonomia para fazer o diagnóstico e a
prescrição de tratamentos aos seus pacientes, àqueles que livremente aceitem a
prescrição”.
Ou seja, o Conselho Federal de
Medicina continua respaldando o Governo Federal e a prescrição do aplicativo
TratCOV: hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, azitromicina e
doxiciclina a pacientes infectados pelo coronavírus. Essa orientação vai de
encontro à OMS e a todos os órgãos científicos do mundo. O CFM prefere o
obscurantismo e negar a ciência para não contrariar Bolsonaro e o bolsonarismo.
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