Polarização de quem com quem?
Luciano Siqueira
Fala-se com insistência em “polarização “, mirando o próximo pleito presidencial.
Da parte do PT e de alguns dos seus
seguidores, seria a tese mais apropriada para justificar uma candidatura própria,
provavelmente do ex-presidente Lula, sobretudo agora que recuperou seus
direitos políticos.
Lula seria, assim, a alternativa
potencialmente mais forte para o enfrentamento do atual presidente, situado na
extrema direita.
O entrechoque desses extremos
conduziria a um segundo turno onde uma maioria seria levada a apoiar Lula,
alguns o considerando um mal menor do que Bolsonaro.
Na grande mídia monopolizada, hoje às
turras com o bolsonarismo, muitos apostam que essa disputa abriria espaço para
uma candidatura de apelo popular — ao estilo outsider — apoiada nas forças de
centro e centro-direita amplamente vitoriosas no último pleito municipal.
De outra parte, agrava-se a polarização
social objetiva, na medida em que a pandemia aumentou a concentração da
produção, da renda e da riqueza e acelerou a exclusão de milhões dentre os mais
pobres.
Mas seria simplista em demasia imaginar
que o conflito na base da sociedade possa automaticamente se refletir na esfera
política.
Há a mediação de muitos fatores, entre
os quais a movimentação real de lideranças e partidos e a influência midiática
na informação e formação da consciência política da maioria.
Dentre os que incentivam a polarização
Lula-Bolsonaro, há quem aposte que o desgaste tanto do bolsonarismo quanto do
petismo favoreceria uma candidatura de centro-esquerda.
Aposta semelhante fez o ex-governador
de Pernambuco Eduardo Campos, quando da reeleição de Dilma Rousseff. Eduardo pretendia
superar Aécio ou a própria Dilma e se constituir na alternativa nova capaz de
vencer o pleito num segundo turno.
Seria um candidato de chegada,
imaginava.
Marina Silva, que o substituiu, ficou
longe disso.
Algo semelhante tenta agora Ciro Gomes,
que bate duro em Lula e no PT e também em Bolsonaro, na expectativa de atrair parcelas
expressivas do centro e mesmo do centro-direita.
Mas, como observou “Marx no 18 Brumário”,
frequentemente a evolução do quadro político em situação crítica (como o Brasil
de agora) escapa à vontade subjetiva dos principais atores em presença.
Toda a cautela é válida. Sobretudo para
quem trabalha pela construção de uma ampla coalizão de forças no campo popular
e progressista, capaz de derrotar a extrema direita.
Vale agora o adágio tão do gosto dos
nordestinos: “devagar com o andor, que o santo de barro.”
.
Veja: Uma vitória parcial. O jogo é pesado https://bit.ly/3vdZXEq
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