Um bom meio-campo deve ter um
atleta intenso e um criativo
Melhor ainda é ter De Bruyne,
que faz tudo em um mesmo jogo
Tostão, Folha de S. Paulo
Após
dois anos e meio de pandemia, tirei
uma semana de férias e me reencontrei com a natureza, com o verde, com o canto
dos pássaros e com o mar. "A eternidade está no encontro do mar com o
sol", disse Arthur Rimbaud.
A
vida e o futebol continuam. No fim de semana, assisti a várias partidas. O
Athletico, com Felipão, e o Inter, com Mano Menezes, dois treinadores que já
foram rotulados de ultrapassados, vão muito bem no Brasileirão. As séries A e B mostram que treinador
bom não tem nacionalidade nem idade.
A
diversidade é essencial. Além disso, os times não ganham ou perdem somente –ou
principalmente– por causa dos técnicos, embora muitos insistam em endeusar e em
massacrar os treinadores nas vitórias e nas derrotas.
Vários
gols, na última rodada, ocorreram após cruzamentos na área, como é habitual. O
Atlético fez três gols pelo alto, na virada sobre o Fortaleza. É uma estratégia
eficiente, desde que não seja a única nem a principal.
Leia também: De
chaleira, como antigamente https://bit.ly/3IdHpuV
Já
o São Paulo, contra o Juventude, no empate por 0 a 0,
cruzou mil bolas na área, sem sucesso, mesmo com Calleri, um ótimo cabeceador.
As bolas eram mal cruzadas, muito altas e lentas. Enquanto isso, Reinaldo,
excelente nos cruzamentos, ficou no banco de reservas durante toda a partida.
Pontas,
alas ou laterais como Reinaldo e Arana não precisam receber a bola livres para
fazer ótimos cruzamentos. Mesmo marcados, sem driblar, tocam para o lado e
cruzam fortemente, de curva, com velocidade e a bola saindo do goleiro.
No empate do
São Paulo, o jovem e promissor Nestor, mais uma vez, atuou por todos os lados,
entrou na área várias vezes e só não jogou onde deveria, no meio-campo, vindo
de trás, com a visão ampla do conjunto, de onde poderia construir as jogadas,
dar ótimos passes e penetrar na área no momento certo.
A
terminologia usada no passado para as posições de meio-campo, de ter um
primeiro volante, camisa 5, um segundo volante, mais hábil, com a 8, e um
meia-atacante ou ponta de lança, camisa 10, mesmo que hoje os números não sejam
fixos, ainda é bastante utilizada por muitos treinadores.
Atualmente,
na Europa, a formação mais usada é a com um volante mais centralizado, que
protege a zaga e inicia as jogadas ofensivas, além de um meio-campista de cada
lado que joga de uma intermediária à outra.
Hoje,
valoriza-se mais o meio-campista que joga com intensidade do que o que joga com
criatividade. Os dois são necessários. Jogadores como Ganso, de pouca
intensidade, perderam o lugar.
Ganso voltou
a atuar bem porque o Fluminense possui um treinador, Fernando Diniz, que tem
uma visão ampla do jogo e se preocupa com o passe e com o domínio da bola. O
ideal é ter, no mesmo time, um meio-campista intenso, como Kanté, e um
criativo, como Pogba. Os dois se completam na seleção francesa. Melhor ainda é
De Bruyne, que faz tudo em um mesmo jogo.
No
empate entre Avaí e Palmeiras, vi,
para minha surpresa, o meio-campista Jean Pyerre, ex-Grêmio. Ele entrou no time
catarinense na metade do segundo tempo e fez um belíssimo gol de falta, pela
curva, pela velocidade da bola e pelo toque na trave antes de a bola morrer na
rede. Jean Pyerre saiu do Grêmio muito criticado pela falta de intensidade.
Queriam que ele fosse um meia-atacante, para entrar na área e fazer gols.
Eu,
que fiquei encantado ao vê-lo jogar as primeiras partidas pelo Grêmio, pela
elegância e pelos toques e passes bonitos, recuperei a esperança ou a ilusão de
vê-lo brilhar intensamente.
.
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