12 fevereiro 2024

Minha opinião/Uma quase crônica de carnaval

Pelas ladeiras 
Luciano Siqueira

Corpo esquentado pelo sol do meio-dia (ou pelo ritmo alucinante do frevo? Ou do maracatu?) Onde estou? Pra onde vou? Já nem sabia responder. Sequer perguntar. Perguntar a quem? No empurra empurra, perdera-se da turma e agora pulava, cantava, abraçava e era abraçado e compartilhava a mesma garrafa com gente que não conhecia e, no entanto, se fazia acolhido numa confraria que duraria alguns minutos porque logo a turba se desarrumaria ao subir a ladeira da próxima esquina e uma nova turba se faria. Já não lia os estandartes que se sucediam à sua frente, a todos traduzia com a verdade que acabara de descobrir e o fizera inebriadamente convicto: — A vida é um eletrizante carnaval, uma sucessão de prazeres, agruras, descobertas, incertezas, conquistas, perdas, delírios a cores e em branco e preto, partidas e chegadas, território livre onde as aventuras se sucedem por atalhos e veredas... A caipirinha lhe aplaca a sede (quem a fez? quem lhe ofertou?), e se vê enlaçado pela foliã morena-agalegada que grita "quem é você!?" e lhe assegura: "se não sabe, não tem problema; desde ontem me tornei sem nome, sem rosto, mergulhada nesse frenético redemoinho de todos os sons, todas as cores, todos os sonhos!" E segue indo sem saber o destino, até que anoitece e se descobre largado na calçada da casa 117, seu porto seguro e porto seguro da sua turma que agora se junta eufórica e a um passo da realidade que retorna debaixo de um imenso chuveiro de água fria. Ocorre-lhe, então, a palavra de ordem (ou o grito de guerra?) que pronuncia com surpreendente estridência: "Evoé!" E todos repetem com um misto de convicção e suavidade: *Evoé!!!" E a turba se vê pronta para se juntar e se separar e se juntar novamente porque é carnaval... até a inevitável quarta-feira.  

[Foto: Passarinho]

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