Havíamos concluído mais uma caminhada ao lado do companheiro Humberto Costa, candidato a governador, e de candidatos a deputado e lideranças comunitárias. Do alto de um trio elétrico, como de praxe, uma breve palavra de agradecimento à militância presente e o registro de uma idéia ou fato do interesse do povo ali concentrado. Tudo muito breve, pois logo em seguida teríamos que nos deslocar para outro bairro, onde faríamos nova caminhada.
Ela surgiu de repente, por entre bandeiras e cartazes. Cabelos brancos, um sorriso largo, acenando como uma velha conhecida. Nas duas mãos entrelaçadas e erguidas para o alto, o sinal de apreço e solidariedade. Quem será que não está dando para reconhecer? Militante de outras lutas (já que o bairro do Ibura, no Recife, na década de oitenta teve a nossa presença freqüente, na condição de deputado estadual vinculado aos movimentos dos moradores da área)?
Ao descermos do trio elétrico, ela aguardava para os cumprimentos habituais. Um abraço afetuoso e a mensagem dita ao pé do ouvido:
- Meu filho, faça tudo o que for possível por esse povo, que tanto merece. Eu não preciso de nada, sou aposentada, já fiz a minha vida, estou tranqüila. Mas o povo daqui precisa muito!
- Faremos o possível, pode ficar certa. Muito obrigado pela confiança.
Após essa rápida troca de palavras, entramos no carro e seguimos adiante, que a programação é intensa e cada compromisso precisa ser cumprido no horário.
“Fazer pelo povo do bairro” é algo um tanto abstrato, tratando-se de um candidato ao Senado, e mesmo do governador, aos olhos daquela gente. Claro que avançar na conquista do desenvolvimento com distribuição de renda e valorização do trabalho terá reflexos sobre a vida ali. Mas é assunto para ser explicado melhor, de ambas as partes – considerando as expectativas dos eleitores e os compromissos assumidos pelos candidatos. Assunto para outra oportunidade, ali não dava tempo.
O diálogo foi muito breve, porém ficou marcado na alma o gesto de carinho daquela mulher desconhecida, tão generosa em suas palavras. Porque é desse contato humano que o candidato se alimenta, na fase atual da campanha, em que gradativamente todas as forças acumuladas, entre aliados e adversários, emergem na disputa frontal e decisiva. A batalha se apresenta em muitas frentes e exige firmeza, resistência física, serenidade, entusiasmo e coragem. Esses atributos o candidato pode até ter, mas não se expressam em sua inteireza sem gestos de confiança e afeto como o da anônima eleitora do Ibura.
* Texto da nossa coluna semanal no portal Vermelho www.vermelho.org.br, publicado hoje.
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