15 novembro 2006

Transparência até demais?

"A facilidade no registro e comunicação de informações não é apenas um progresso tecnológico – ela também nos faz confundir a vida com espetáculo e viver como atores" - assim se inicia interessante reportagem na CartaCapital desta semana, assinada por Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa.

Nesse trecho, a reportagem faz referência ao show de exibicionismo a que muitos internautas se entregam (expondo sua intimidade) através de sites de relacionamento, como o Orkut: "O Friends Reunited é de 1999, os celulares que tiram fotos de 2000, o Friendster e o Fotolog são de 2002, o MySpace de 2003, o Orkut, o Flickr e o Flog Brasil de 2004, o YouTube de 2005. Esses sites surgiram para reencontrar ou fazer amigos e para trocar idéias, mensagens e imagens. Em tese, essa ainda é a sua finalidade. Mas, como escreveu Jessica Clark na revista In These Times, os próprios nomes dos sites mais populares nos EUA indicam que fazer amigos é menos importante do que gerar uma base de fãs virtuais, um altar on-line a si mesmo – “Meu Espaço”, “Você Também Exista”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Luciano Siqueira,

Para além dos espaços que vc citou a partir de reportagem da CartaCapital, tais como o Orkut, Flickr, Flog Brasil, YouTube, etc, há ainda o fenômeno dos blogs, analisados do ponto de vista psico-social, pela antropóloga argentina Paula Sibília, teórica e estudiosa dos fenômenos contemporâneos da rede e seu rebatimento na espetacularização do "eu", umbiguismo elevado e exposição pública, nos ajudando a compreender o fenômeno com certa inquietação.

Deixo aqui um fragmento de texto de paula Sibília:

"Escritura de sí, interioridad, memoria"

"Numa primeira análise, fenômenos como o dos blogs, fotologs e webcams parecem recriar um hábito cuja sentença de morte já tinha sido decretada, que teve seu auge nos séculos XVIII e XIX e estava fortemente vinculado à sensibilidade da época: a paciente e minuciosa “escrita de si” nos diários íntimos tradicionais. Há, porém, um aspecto muito significativo nessas novas “narrativas do eu”: sendo expostas aos milhões de olhos que têm acesso à Internet, as confissões (e as imagens) cotidianas dos autores revelam uma peculiar inscrição na fronteira entre o extremamente privado e o absolutamente público. Intui-se, portanto, uma instigante subversão das fronteiras que costumavam separar essas duas esferas no mundo moderno."

"Por isso, consideramos que essas novas práticas podem oferecer pistas interessantes sobre as fortes transformações que hoje atravessa a produção de subjetividades. São afetadas, neste quadro, várias noções importantes, como as de intimidade e privacidade. Do mesmo modo, a idéia de interioridade perde força, diminuindo a valorização da “vida interior” como o principal eixo em torno do qual as subjetividades modernas eram construídas. Cada vez mais, a “verdade” sobre o que cada um é se desloca desse âmago secreto, radicalmente íntimo e privado, para aflorar na superfície da pele (e das telas). Em vez de nutrir o antigo olhar introspectivo, portanto, hoje assistimos à proliferação de espaços, tecnologias e práticas que permitem e que incitam uma certa “espetacularização do eu” com recursos performáticos. A Internet, nesse sentido, se apresenta como um importante cenário de experimentação."



Por aí vai a citada antropóloga. O texto em formato PDF, é mt longo, se houver interesse envio por e-mail com prazer. Apenas destaquei um fragmento que nem é dos mais significativos.

De resto, sem sobra, grande abraço, e mt obrigada por tudo que , com todas as grandes tarefas que tem no seu cotidiano, ainda vem nos homenagear com um blog lindo, nos mantendo atualizados das atividades de PCR, Governo Federal, conjuntura política local e internacional. Além, é claro, de belíssima e comovente poesia. Gosto muito.

Abraço.

Selenia Granja

Anônimo disse...

PostScripta: O título do artigo acadêmico de Paula Sibília, é: ‘Os diários íntimos na Internet e a crise da interioridade psicológica’, e pode ser encontrado em qualquer site de busca. Não sei se citei o título no comentário que postei a pouco.

Bj.
Selenia.