No Jornal do Commercio de hoje. Lei a anlalise.
ENTREVISTA » LUCIANO SIQUEIRA
“Não abandonamos nossos ideais”
O segredo da longevidade do comunismo no Brasil, no que toca ao PCdoB, é a adaptação das teses à realidade local, sem esquecer os ideais socialistas. O vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira, dirigente nacional do partido, diz que sua legenda é contemporânea e que vive hoje a melhor fase, participando das decisões nacionais, sempre voltada para a sociedade.
JORNAL DO COMMERCIO – A linha adotada hoje pelo PCdoB mantém os ideais da Revolução de 1917?
LUCIANO SIQUEIRA – Sim. A conquista do poder político com a participação da sociedade, mas com a hegemonia do proletariado. Não abandonamos esse princípio. Mas não queremos reproduzir aqui conteúdos e formas da URSS. São realidades distintas. O marxismo prevê a capacidade de criticar a si mesmo e estar sempre se reformulando. Se não houver evolução teórica, ficamos carentes de instrumentos científicos para analisar a realidade. Não temos saudade do passado, e sim um pensamento contemporâneo.
JC – É o segredo da longevidade do PCdoB?
LUCIANO – Sim. Vivemos hoje nossa melhor fase. Estamos em processo de eleições para as direções estadual e as municipais com mais de 100 mil militantes unidos, sem correntes organizadas ou grupos. Malgrado tenhamos vivido a maior parte da nossa existência proscritos, somos partícipes ativos da cena política, reconhecidos por aliados e adversários. Desenvolvemos nossos pontos de vista no curso real da luta política e social, e não à margem. É simples se agarrar à uma idéia abstrata de transformação social e ficar só reclamando. Nós compartilhamos projetos com alguns partidos, polemizamos com outros, mas atuamos.
JC – A modernização teve um custo, não?
LUCIANO – Se considerarmos de 1962 para cá, só houve ganhos. O custo é ter levado tempo para deslindar nossos problemas teóricos e políticos. Mas só há benefícios, porque a ruptura com o dogmatismo, com o raciocínio mecanicista da realidade, liberta o partido. Somos marxistas-leninistas renovados, modernos no conteúdo e no modo de agir. Não abrimos mão da cor, do símbolo e dos princípios, mas estamos debruçados na realidade, que é mutável.
JC – Os rachas melhoraram o desempenho?
LUCIANO – Foram contingências naturais do processo de amadurecimento. Melhorou o cenário, embora tenhamos perdido quadros que abominaram o marxismo e seus ideais.
ENTREVISTA » ROBERTO FREIRE
“É preciso esquecer as velhas teses”
A experiência dos PCs no Brasil e no mundo não tem mais perspectiva de futuro. Quem diz é o presidente nacional do PPS, Roberto Freire. Foi ele quem, em 1992, conduziu o antigo PCB à mudança que aboliu a foice e o martelo e renovou seu conteúdo programático. Alvo de críticas, ele afirma que o PPS representa o moderno e que o comunismo acabou junto com a URSS.
JORNAL DO COMMERCIO – O PCB teve uma existência tumultuada, com clandestinidades e perseguições. Qual o segredo da longevidade do comunismo?
ROBERTO FREIRE – A longevidade é fruto da existência da União Soviética. Nos piores momentos de repressão, havia o movimento comunista internacional, a luta mundial. Foi a partir da Revolução Russa que ganhou força a organização operária. No Brasil, foi ela que motivou a primeira grande greve dos trabalhadores, quase no mesmo ano. Aqui, a Revolução gerou toda uma organização que mudou o próprio sistema capitalista e estimulou o crescimento da luta operária. Agora, a União Soviética acabou, e há herdeiros da tradição comunista que fizeram mudanças significativas, como o PPS. Outros não fizeram. Mas os partidos comunistas só duraram enquanto durou a URSS.
JC – O PPS é resultado de uma reformulação intensa dos ideais comunistas. O partido chegou a ser acusado de desvirtuar esses ideais, de trair a causa. O que motivou essa reforma?
FREIRE – O fim da experiência do socialismo real. Não há nada mais contundente para motivar uma reformulação. A experiência dos partidos comunistas é, hoje, algo sem perspectiva política de futuro. Eram frutos da Revolução Russa. Em quase todo o mundo os partidos comunistas que não se reformularam tiveram perdas e passaram a estados quase vegetativos. Mas quem traiu de verdade foi quem não fez as mudanças necessárias. O PPS encarou o enfrentamento da realidade e se modernizou.
JC – Mesmo o PPS não atingindo a posição de partido de massas, a reformulação funcionou?
FREIRE – O PPS é um partido na linha do PDS italiano (Partido Democrático de Esquerda). Fizemos as mudanças necessárias, e quem não fez sofreu rachas. O que é, por exemplo, o partido comunista francês hoje? Era um dos mais fortes e está reduzido às disputas com os menores. Em Portugal, na Espanha, também. Estão sendo substituídos por partidos de feição moderna. O que não tem mais sentido é ficar falando em antigas teses, como centralismo democrático ou partido único.
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