27 março 2008

Entrevista

Luciano diz que anda conversando com vários partidos

Blog da Folha:
Na segunda da série de entrevistas com os pré-candidatos à Prefeitura do Recife, o vice-prefeito e pré-candidato à sucessão municipal, Luciano Siqueira (PCdoB), fala ao blog. Luciano, cuja candidatura vem sofrendo resistência de setores governistas, especialmente do prefeito do Recife, João Paulo (PT), garante que não sairá isolado para a disputa.

"Nós temos a convicção de que não iremos sozinhos nesta eleição, iremos com aliados, mas temos que ter muita paciência com os aliados", disse Luciano.
O comunista também ressaltou a importância do pleito para a disputa para o Governo do Estado, em 2010.

"As forças políticas tentarão vencer no Recife na tentativa de acumular forças para a eleição de 2010. E 2010, em Pernambuco, é uma página quase em branco. A única variável consistente é que o governador Eduardo Campos (PSB) estará muito bem posicionado", afirmou.

O vice-prefeito disse ainda que, apesar de não ter definido o seu programa de governo, já tem na sua agenda alguns assuntos que deverão ser prioritários durante a campanha.

"Hoje - digo hoje porque daqui a mais três meses nós teremos amadurecido essa discussão - eu penso que seria o desenvolvimento econômico, o combate ao desemprego, meio ambiente e cultura", avalia.

O que o senhor considera o principal defeito da gestão e o que o senhor pretende fazer para resolver isso?

Eu acho que defeitos o nosso governo tem, como todo governo. Uma vez eu escrevi um artigo intitulado assim: governo é como gente não é perfeito, tem insuficiências e defeitos. Eu quero crer que uma avaliação mais precisa dos defeitos e das virtudes do nosso governo nós só teremos no final do governo.

Agora tem uma dificuldade que preocupa João Paulo e preocupa a nossa equipe como um todo que é a dificuldade de imprimir celeridade as nossas ações. Em parte porque nós falhamos em alguns momentos e em parte porque a lógica da burocracia estatal nos tira muita agilidade.

E como é que o senhor como pré-candidato a prefeito pretende dar agilidade a este processo?

Minha situação é uma situação peculiar e se assemelha ao companheiro João da Costa (secretário de Planejamento Participativo e pré-candidato). No meu caso, sou co-protagonista do governo na condição de vice-prefeito e co-responsável por tudo que tem de bom e também o que possa ter de ruim.

E quando nós estamos no exercício da função, assolados por demandas que são de ontem, nem sempre é fácil encontrar soluções. Porém, como pré-candidato, eu desenvolvo um esforço de reflexão com ajuda, inclusive, de pessoas com experiências de gestão, destinado a criar uma plataforma. E este aspecto vai ser um dos pontos também sobre o qual vamos avançar.

O senhor disse que ainda não avançou no seu programa de governo, mas já tem um norte do que o senhor pretende ter como prioridade para uma futura gestão?

Essa nossa proposta para o governo parte de uma preliminar, que é uma afirmação dos urbanistas e dos estudiosos em geral: a cidade está sempre em construção. Por conseguinte, governar a cidade implica reconhecer que os seus problemas e as suas potencialidades estão sempre em evolução.

Por essa razão, nós estamos ainda traçando uma plataforma, que é o termo que a gente prefere usar, apoiada em três eixos. O primeiro é o compromisso de consolidar as extraordinárias conquistas obtidas nos nossos dois governos consecutivos, liderados pelo companheiro João Paulo, naturalmente corrigindo deficiências e aprimorando o quem tem dado certo.

O segundo eixo e mais importante é a construção da nova agenda da cidade. Isso porque não apenas os problemas atuais se apresentarão em uma outra dimensão daqui a um ano, como também há um fato novo em Pernambuco, que é o início de um novo ciclo de crescimento econômico. Capitaneado pelos grandes empreendimentos industriais sediados em Suape, eles implicarão na exacerbação de alguns problemas clássicos nossos, como também no surgimento de novas oportunidades e desafios para a cidade.

E o terceiro eixo é a abordagem dos problemas estruturais da cidade do ponto de vista metropolitano, buscando soluções consorciadas. Existem problemas que são comuns ao Recife e a toda a Região Metropolitana. E a nossa experiência de governo mostra que tentar resolver o problema cidade por cidade, cada um individualmente, não é eficaz.

Agora, se você dissesse está certo, esses são os eixos, mas quais seriam as suas prioridades? Hoje - digo hoje porque daqui a mais três meses nós teremos amadurecido essa discussão - eu penso que seria o desenvolvimento econômico, o combate ao desemprego, meio ambiente e cultura. Acho que essas quatro prioridades sintetizam desafios, possibilidades e soluções para o Recife.

O senhor vai ter aí um concorrente que é seu colega de governo, que é o secretário João da Costa e ao mesmo tempo enfrentará nomes fortes da oposição como Raul Henry (PMDB) e Mendonça Filho (DEM). Como o senhor acredita que será campanha?

A minha expectativa se baseia em duas considerações. A primeira é que será uma disputa acirradíssima porque se o governo do Recife por si próprio tem importância estratégica na geo-política do Estado de Pernambuco, a eleição no Recife terá relação direta com as eleições de 2010.

As forças políticas tentarão vencer no Recife na tentativa de acumular forças para a eleição de 2010. E 2010, em Pernambuco, é uma página quase em branco. A única variável consistente é que o governador Eduardo Campos (PSB) estará muito bem posicionado para a próxima eleição. E lembre-se que ainda se têm nas próximas eleições duas vagas para os senadores. Então, a disputa será de interesses imediatos, ou seja, conquistar o Recife, e mediatos também. A outra premissa é que todos os candidatos mencionados até agora são quadros preparados competentes que tem o que dizer sobre a cidade. Então, a expectativa é que a campanha seja marcada por idéias e não por sangue e lama. Da minha parte, não há perigo de ter lama e sangue, apenas propostas.

E como o senhor acredita que será o seu relacionamento com João da Costa?

Nós não somos adversários. Nós seremos concorrentes. Representando partidos políticos que se separarão no primeiro turno do ponto de vista eleitoral, mas que irão se reunir no segundo turno. Eu espero manter a camaradagem de mais de sete anos de governo.

Como o senhor pretende manter a agenda de pré-candidato com a sua agenda de vice-prefeito?

Já estou conciliando as duas. Normalmente, eu trabalho até seis horas da noite e quando eu não tenho compromisso oficial eu já saio daqui para reuniões de pré-campanha, isso quando eu não tenho compromissos oficiais. E nos fins de semana a dedicação é quase que exclusiva para a pré-campanha.

E como anda essa questão de apoios? O prefeito João Paulo ainda continua insistindo na idéia de demover o senhor da sua pré-candidatura?

Demover não porque ele nunca se dirigiu ao PCdoB nestes termos, mas, na medida em que ele não se convenceu da tese de mais de uma candidatura, é natural e compreensível que ele se esforce para ter todos os partidos em torno do candidato do PT no primeiro turno, mas ele nunca fez nenhum apelo ao PCdoB neste sentido.

Ele respeita muito a nossa posição e da nossa parte nós continuamos conversando com todos, sem nenhuma discriminação. Esta é uma das coisas que nós temos muita experiência em Pernambuco. Desde 77 que participo da vida política em Pernambuco e sei que para construir alianças com partidos é preciso muita paciência e perseverança. E a maioria dos partidos resolveu se definir entre o final de abril e o começo de maio.

A gente vem conversando com todos os partidos, com o PMN, com o PTC, até o PT que não vai nos apoiar a gente conversa.

Aprendi uma coisa com Tacredo (Neves) ele dizia o seguinte: se você quer construir uma aliança sólida tenha paciência, fique "rouco" de tanto ouvir, não ache nada estranho e considere tudo legítimo.

Nós temos a convicção de que não iremos sozinhos nesta eleição, iremos com aliados, mas temos que ter muita paciência com os aliados.

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