Ideologia, política e eleições
Luciano Siqueira
Recorrente em certos círculos a afirmação de que “no Brasil já não se fazem alianças ideológicas” nas eleições. E a coisa é dita não raro com certa empáfia por “cientistas políticos” sempre prontos a destilar diatribes contra os partidos políticos, sem considerar a história real. Nem a verdadeira natureza da conjugação de forças na peleja eleitoral.
No primeiro plano a crítica tem endereço certo: o PT e, em certa medida, o PCdoB. Partido dos Trabalhadores que esses críticos gostariam de ver isolado politicamente, como nos seus primeiros anos de existência, avesso a alianças mesmo à esquerda – o que fazia a alegria das elites reacionárias que o cultuavam como exemplo a ser seguido e como contraponto aos comunistas, praticantes amplas alianças.
Foi a partir da Frente Brasil Popular, em 1989, na primeira tentativa de Lula alcançar a presidência, que o PT começou a compreender a necessidade de alianças para viabilizar o projeto político nacional. Assim mesmo, no segundo turno daquele pleito, Lula recusou publicamente o apoio de Ulysses Guimarães por julgá-lo conservador – erro que o atual presidente veio a reconhecer posteriormente.
Mas há também um equívoco grosseiro ao se tratar de alianças políticas como questão ideológica. Pois que a ideologia como representação do modelo de sociedade pretendido por esta ou aquela classe ou segmento de classe, traduzida na base teórica de cada partido (socialismo, marxismo-leninismo – no caso de partidos comunistas) não é exatamente a variável que determina o arco das alianças. O que determina é a política.
Como dizia um dos que a manejaram como poucos, Lênin, a alma da política é a tática; e a essência da tática está na correlação de forças. Donde se depreende que a natureza e a amplitude das alianças entre partidos é mediada por uma plataforma imediata em torno da qual se considera possível unir aliados mais próximos, atrair outras forças suscetíveis de ser atraídas, neutralizar outros para isolar, enfraquecer e derrotar o inimigo principal. Partidos de projetos estratégicos distintos ou díspares, de inspiração ideológica completamente diferentes, podem eventualmente e no plano imediato, marchar juntos. A coalizão que hoje dá sustentação ao governo Lula, formada por quinze legendas partidárias é um exemplo emblemático.
Demais, não se registram em nossa história política e institucional, desde o Império e da República Velha ao do período que se sucedeu à Revolução de 30, coligações partidárias pautadas pela confluência de ideologias. Sempre se deram, aqui e mundo afora, em função de projetos políticos de curto e médio prazo, respeitada a ideologia de cada um.
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