Tudo para os bancos, nada para a produção
Renato Rabelo*
O PCdoB tem sido muito claro com relação aos limites e gargalos da política macro-econômica brasileira, apesar de todos os avanços conquistados especialmente neste segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O problema se encontra basicamente em relação à concentração de poderes do Banco Central sobre nossa política monetária, caracterizada pela manutenção de uma política de juros altos fora da realidade e de uma taxa de câmbio que funciona com os mesmos mecanismos – guardada a proporção — da lei de “Abertura dos Portos às Nações Amigas” promulgada por D. João VI em 1808. Os resultados e sinais dessas distorções estão claros e surgem todos os dias.
Vejamos o exemplo da semana passada quando se anunciou, com grande alarde, o lucro recorde do Banco do Brasil da ordem de R$ 10 bilhões. Numa análise mais superficial fica uma alegria, afinal um banco público que fora obrigado a baixar os juros para quebrar o monopólio privado do crédito deu-se muito bem apesar da gritaria de amplos setores do sistema financeiro e da mídia que praguejavam uma “insustentabilidade” desta concorrência com o setor privado e previam uma crise de inadimplência futura ao Banco do Brasil. Por outro lado, se agregarmos esse valor do Banco do Brasil com o de outras instituições bancárias chega-se ao valor de R$ 37, 9 bilhões em 2009, ou seja, um aumento de 15,19% com relação a 2008. Enfim, os bancos brasileiros aumentaram seus lucros em meio à maior crise financeira desde 1929!!!
E as empresas brasileiras? Eis uma boa pergunta que interessa diretamente aos trabalhadores. Bem, podem acreditar, mas um levantamento com 22 balanços de grandes empresas brasileiras sugeriu uma retração, em 2009, nos lucros no setor produtivo da ordem de 44% com relação a 2008. A Companhia Vale, por exemplo, teve um lucro de R$ 10,249 bilhões, mas isto significou uma queda de 51,8%. O que concluir dessa relação toda entre a esfera financeira e a esfera produtiva da economia brasileira? Só posso pensar que está em curso uma grande inversão de valores.
Os bancos surgiram num primeiro momento da história como um verdadeiro depósito de dinheiro, onde se guardava o excedente de produção. Já em outra época, os bancos passaram a exercer o papel de base para a expansão industrial. Desta forma, o crédito passou a ser o principal motor do capitalismo, à realização do ciclo do capital (D-M-D`). No final do século XX já era clara a tendência, no mundo, de os bancos passarem a funcionar como empresas destinadas a reproduzir lucros próprios, sem passar pelo processo de produção. Eis o chamado processo de “financeirização”. Daí os lucros dos bancos, no Brasil, serem maiores que das empresas. O mercado de crédito está inflacionado por conta das taxas de juros praticadas no Brasil. Assim se configura uma grande inversão de valores sentida na expansão dos lucros dos bancos em detrimento do verificado nas empresas.
Nossa luta é pela queda das taxas de juros, pela primazia da produção. Mas, a batalha é política, pois força política é o que mais os bancos tem no Brasil e no mundo de hoje.
* Presidente nacional do PCdoB.
Nenhum comentário:
Postar um comentário