23 janeiro 2011

A prosa poética de um jovem cronista

Eu e...
Matheus Landim


Aqueles dois olhos esbugalhados, tensos, me fitando com apavorada preocupação (incapaz de se mover de tanto medo, arrisco); ao mesmo tempo atentos ao momento, a uma possível ação que se seguiria de uma desengonçada e inevitável reação. Era inacomodável a tensão do encontro, nós, os dois, incapazes de qualquer coisa, amedrontados demais para qualquer atitude de sua respectiva pessoa, extrema e intimamente em guarda, a espera de qualquer passo alheio para que a partir do mesmo tudo adquirisse consequente definição. Mas o inquietante se tornou insuportável e percebeu-se que esse seria como tantos outros encontros (todos os outros), dependentes da interferência de um terceiro para que o fim tomasse forma – ainda que esses momentos nunca fossem para sempre, assim o parecia, e de novo parecia que os dois se encarariam inertes para toda a eternidade. Os dois tão aflitos na companhia um do outro… Havia tanto a se fazer na teoria e tão pouco a ser feito na prática…! Avançar, recuar, gritar, intimidar, dissimular, nada podia ser feito naquela embaraçosa situação. O roçar de sua pele em mim me dava calafrios, a ideia de nos tocarmos por mais tempo do que o de uma reação instintiva me habitava os ataques de ansiedade. Era nisso que dava ir para aquela casa, esses encontros eram inevitáveis e a vã tentativa de, mesmo assim, evitá-los ocupava mais espaço do que o saudável, mas, novamente, era impossível escapar, ele estava no terraço, no quarto, na sala, no banheiro, se aproximando sorrateiramente, como se quisesse que o embaraço do encontro se fizesse presente em todas as ocasiões, só podia ser isso! Como me perturbava que encontros tão raros fossem tão cheios de falso decoro – seria melhor que nunca acontecessem! Por mim, não eram desejados nem um pouco, embora enquanto naquela casa a possibilidade de ficarmos cara a cara pouco saísse da minha cabeça e nunca fosse inexistente. A essa altura, ambos ansiavam pela interferência terceira, que viesse logo, pois alguém tinha que fazer alguma coisa, pelo amor de Deus! Queria me mexer – mas não pude; provavelmente ele também tentou e não conseguiu. Quem sabe? Ambos estáticos, amedrontados, apavorados, olhos vidrados, músculos tesos, respiração contida. Era o limite. Sorte a minha que a minha mãe, minha salvadora naquela hora, abriu a porta em direção ao banheiro, passando pela sala em que o evento ocorria e, constatando um filho atônito, aturdido, pegou a vassoura e me – nos – salvou do sapo, afugentando-o. Agora nós dois estávamos livres, até a próxima ida até lá ou até outro lugar.

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