12 janeiro 2011

Meu artigo semanal no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

O rico, o pobre e a consultoria especializada
Luciano Siqueira


Nos poucos dias de recreio na praia, no final do ano, manuseei uma revista de amenidades onde vi, sem lê, um artigo cuja autora – de que não me recordo o nome – se apresenta como “consultora de riqueza”. Veja que não sou assim tão desinformado, pois tenho as antenas ligadas em tudo e no entanto me surpreendi com a qualificação da articulista.

Não li o texto, nem preciso: não estou entre os seus possíveis clientes, já que riqueza monetária nunca foi o meu forte nem jamais se incluiu entre as minhas aspirações pessoais. Posso até imaginar alguém que a contrate:

- Minha senhora, tenho acumulado muita mais-valia, absoluta e relativa, e meu problema é como administrar tanta riqueza!

- Pois não, senhor. Posso lhe oferecer um diagnóstico preciso para a sua fortuna e indicar as melhores técnicas para assegurar seus intentos.

- Pois bem. Meu interesse é exatamente fazer com que tudo que amealhei até agora não feneça, antes possa se reproduzir e me tornar mais rico ainda.

- Não seja por isso. Temos aqui alguns softwares testados com muito sucesso que o ajudarão a extorquir mais mais-valia ainda e bem aplicar o produto da extorsão em rentáveis negócios. A felicidade em suas mãos!

E assim por diante, creio cá com a minha ignorância.

Por outro lado, há que se perguntar: existe também “consultoria de pobreza”? Se sim, provavelmente ociosa e sem contratos à vista. Porque o pobre por ser pobre não pode contratar tais serviços especializados, que devem custar caro. Além disso, com tanta experiência acumulada ele já sabe como se comportar – se a empreitada for manter a sua pobreza. É o que penso.

De toda sorte, supondo que algum pobre deseje sair do seu estado atual e alcançar o polo oposto, o estado de riqueza, poderia contratar gente como a tal “consultora de riqueza”. A pergunta é: se a tal consultora tem autoconfiança profissional e certeza da eficácia do seu arsenal técnico destinado a reproduzir a riqueza, toparia um contrato de risco? Ou seja, aceitaria como cliente o pobre que deseja ficar rico sob o compromisso de honrar os custos da consultoria lá adiante, quando efetivamente realize sua ascensão social?

Enfim, minhas perguntas certamente nada esclarecem. Apenas refletem minha inaptidão para conviver com esse subproduto do capitalismo tupiniquim que, como se vê, vai se sofisticando tal como o de outras plagas.

Globalização dá nisso. Ou não?

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