24 janeiro 2011

Uma crônica minha no site da Revista Algomais

Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo
Luciano Siqueira


Não opino sobre futebol faz muito tempo, desde que abandonei os estádios com o nascimento da minha primeira filha, Neguinha. Se numa tarde de domingo não tivesse reunião, viagem ou outro compromisso político, ou plantão em hospital, entre ir a um jogo e dar atenção à família optei pela segunda alternativa. E nunca me arrependi. Afinal, a vida – quantas pessoas já disseram isso! – é uma sequência interminável de escolhas.

Como só vejo jogos pela TV e muitas vezes desisto quando a partida é mal disputada, não me sinto autorizado a dar palpites. Mas hoje ergo o braço e peço a palavra. É sobre o repatriamento (termo em voga) de dois ex-destacados astros da seleção canarinha – Ronaldinho Gaúcho (31 anos) e Rivaldo (38). Ambos outrora escolhidos “o melhor do mundo”, vencedores de muitas pelejas e glórias.

Rivaldo retornou sem muito alarde, assumiu o controle do Mogi Mirim, da cidade homônima no interior de São Paulo, clube importante em sua trajetória iniciada no Santa Cruz, do Recife. Depois do Mogi Mirim, veio o Palmeiras, se não me engano (ou foi primeiro o Corinthians?), e em seguida a Europa e tudo mais. Seu último clube no exterior foi o desconhecido Bunyodkor, do Uzbequistão. Agora é contratado pelo São Paulo para reforçar o elenco comandado por Paulo Cesar Carpegiani.

Com Ronaldinho foi tudo diferente. Estava no todo-poderoso Milan, da Itália. Protagonizou leilão milionário envolvendo seu clube de origem, o Grêmio de Porto Alegre, o Palmeiras e o Flamengo. Ganhou o Flamengo mediante o que os economistas chamariam de “arranjo produtivo”, onde convergem muitos interesses comerciais e midiáticos.

Ronaldinho recebe mais de um milhão de reais ao mês. Rivaldo, não sei – deve ser bem remunerado, mas longe desse portentoso valor.

Tenho cá minhas dúvidas sobre qual dos dois será mais útil a suas agremiações atuais. Imagino que Ronaldinho venha a ser decisivo em algumas partidas, delicie os torcedores rubro-negros (e os amantes do futebol em geral) com jogadas geniais, porém concentre suas energias em administrar os múltiplos compromissos públicos determinados pelos seus patrocinadores. Já Rivaldo, suponho, relegado a um tratamento menos glamoroso, talvez se sinta instado a mostrar a que veio e dê duro de verdade – e, claro, pelo talento de que é dono, faça também jogadas deslumbrantes, sem perder contudo aquela característica que o acompanha desde menino pobre da cidade de Paulista, na Região Metropolitana do Recife, a disciplinada objetividade.

Tenho comigo essa impressão porque sinto que o futebol se parece com a luta política: não basta saber guerrear, é preciso se sentir motivado por razões que extrapolem os limites de cada batalha. Quem sabe Rivaldo sinta lá no seu íntimo a necessidade se afirmar, nesse fim de carreira, pelo menos para provar que também merece destaque nas primeiras páginas dos jornais e nas resenhas de TV e rádio.

Tomara. Para o bem do quase esquecido futebol arte.

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