Luciano Siqueira
Sempre me fascinaram as palavras, desde a escola primária.
Juntar palavras e traduzir a idéia e o sentimento algo mágico para mim. Brincar
com elas, mudar a ordem e construir diferentes sentidos para a frase original.
Mesmo a simplória sentença “Ivo viu a Uva” das rudimentares cartilhas de
alfabetização.
Daí também o gosto pela leitura. E pela anotação do lido e
do imaginado, em fichas manuscritas.
Adolescente, vindo morar no Recife (a família se transferira de Natal, RN), ganho o sorte grande de um convite de Paulo Rosas, psicólogo, professor da Universidade Federal de Pernambuco, meu tio: cuidar de sua biblioteca. Com uma tarefa básica e a liberdade de ler o que quisesse.
A tarefa básica: transformar em fichas de leitura,
datilografar em papel cartão, grifos e anotações à margem que ele fazia nos
livros que lia - não apenas sobre Psicologia e Educação, focos de sua atuação
como professor e pesquisador, pois seu ângulo de visão era vasto e múltiplo,
incluindo a boa literatura brasileira e universal. Para mim, um aprendizado
precioso do modo de sistematizar as idéias e guardar conhecimento.
A liberdade de ler não era assim tão irrestrita. Aquela
coleção de capa dura e papel bíblia eu ainda não tinha maturidade para ler,
disse-me. O mesmo que botar uma linguiça na boca de um cachorro e pedir que ele
a rejeite. Comecei a ler exatamente aqueles livros, claro que entendendo quase
nada das Obras Escolhidas de Freud, em espanhol.
Hoje, primeira década do Século XXI, onde se informatizam
até os desejos mais primários do ser humano, já não faço fichas manuscritas nem
datilografadas. Desde que o companheiro de lutas e amigo Eduardo Bonfim me
apresentou a maravilha do computador (eu resistindo, apegado ao papel e à
máquina de escrever), e Neguinha, minha filha, passou a usá-lo em casa para dar
conta do curso de Arquitetura, cedi à modernidade. Mas continuei fazendo minhas
fichinhas de leitura, agora digitadas.
Hoje me espanto quando alguém me chama de “avançado” porque
estou na Internet de corpo e alma. É como que tomando consciência do quanto
pude evoluir no uso de ferramentas diversas para anotar, refletir, formular
idéias ou simplesmente alimentar meus sonhos. Mantenho o blog pessoal www.lucianosiqueira.blogspot.com,
comunico-me pelo www.twitter.com/lucianoPCdoB, pelo Facebook
e pelo site www.lucianosiqueira.com.br
e desenvolvo intensa correspondência através de e-mails.
Certamente por isso outro dia um amigo me veio convencer da
utilidade do livro digital, certo de que aqui encontraria guarida para seus
argumentos. E se surpreendeu com a minha recusa: “Peraí, rapaz, nada substitui
o livro impresso. Estou na Internet, mas não me tire o prazer de ler meus
livros!”
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