As "previsões" do mercado
As análises eleitorais do setor financeiro são hoje
pouco mais que exercícios do wishful thinking, quando não armações para lucrar
Marcos Coimbra, na Carta Capital
Uma das peculiaridades do momento atual é a intensa e despropositada
divulgação das especulações do mercado financeiro a respeito da eleição
presidencial. Quase todo dia, a mídia oposicionista faz circular prognósticos
eleitorais de bancos e consultorias. E trata-os como se merecessem crédito
especial. Talvez considere que nessas empresas existam especialistas notáveis
da vida política brasileira, cujas opiniões e pontos de vista precisariam ser
conhecidos por todos.
Sem subestimar a competência dos profissionais do
mercado financeiro, é fantasia imaginar que possuam grande habilidade analítica
em assuntos políticos e eleitorais. Ao contrário, a regra é que estejam
improvisados circunstancialmente no papel de “analistas políticos”, o que
deixarão de ser tão logo passe a eleição. Em três meses, lá estarão de volta
aos afazeres que conhecem, na interpretação de cenários do agronegócio no
Piauí, da indústria de calçados ou do comércio de bebidas.
Os bancos, as
consultorias econômicas e outras instituições financeiras, nacionais ou não,
claro está, têm o direito de elaborar análises da situação política brasileira.
E não é de hoje que monitoram os processos eleitorais, para avaliar o impacto
dos resultados em seus negócios. Desde a eleição de 1994, muitos dos mais
importantes tornaram-se clientes de institutos de pesquisa, às vezes por meio
da contratação de pesquisas próprias, às vezes na busca de assessoramento
técnico.
Duas coisas são diferentes neste ano. De um lado, há uma proliferação de
atores menores, pequenas empresas que buscam espaço no campo das “previsões
eleitorais”, algumas no esforço de vender um know-how que não possuem. Quem
dispuser de dinheiro para jogar fora que as compre.
De outro, e mais importante, temos atualmente, na imensa maioria dessas
“análises”, um extraordinário predomínio do desejado em relação ao observado.
Nas “previsões eleitorais” disponíveis, o que encontramos é o retrato do que
seus autores gostariam de ver, não do que é mais provável.
Isso fica claro no uso seletivo das pesquisas e na relutância em aceitar
o que elas mostram de fato. É o inverso do que o mercado fez em eleições
passadas, quando recebia os números com a cautela devida, mas não brigava com
eles.
Hoje, a regra passou a ser não acreditar no que as pesquisas dizem e procurar
pretensos significados “ocultos”, escondidos nas entrelinhas.
A larga vantagem de Dilma Rousseff, que tem,
sozinha, mais intenções de voto do que a soma dos adversários? O fato de ela
ter o dobro do segundo colocado e quase cinco vezes o obtido pelo terceiro? A
constatação de que os “outros candidatos” sempre terminam com desempenho
modestíssimo na urna e são irrelevantes para propiciar o segundo turno? A
dianteira da presidenta ante todos em um possível segundo turno? Não dizem nada
para quem gasta tempo a perscrutar tabulações e cruzamentos de dados à cata de
algum sinal negativo para a presidenta.
E nossa história eleitoral, que indica que quem mais cresce quando começa a propaganda
eleitoral na tevê e no rádio são os candidatos à reeleição? E a experiência
internacional, que mostra que o “tempo de antena” é um fator decisivo nas
eleições modernas? Nada, tudo seria irrelevante, pois viveríamos agora em um
hipotético mundo pós-televisivo, no qual o eleitorado conheceria e selecionaria
os candidatos por meio das redes sociais.
Engraçado: nas pesquisas esses analistas enxergam apenas o que lhes
interessa: a “vontade de mudança”, a “rejeição a Dilma”, o “desgaste do PT”.
Para isso serviriam, mas, para qualquer outra coisa, poderiam ser
desconsideradas.
As “análises eleitorais” do mercado são hoje pouco mais que exercícios
de wishful thinking (quando não são armações para lucrar à custa dos
incautos). Os responsáveis por elas fazem “previsões” com base nos desejos de
um determinado resultado. Preferem a derrota de Dilma e a anunciam ao mundo.
Lembram o que alguns “analistas” brilhantes da mídia oposicionista
ofereceram aos diplomatas norte-americanos na última eleição e o WikiLeaks
revelou: um monte de interpretações equivocadas e previsões furadas. No fundo,
são muito semelhantes aos comentaristas e colunistas da mesma mídia hoje em
dia. Apenas torcedores. Nada mais.
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