Janio de Freitas, no blog de
Luis Nassif
O
catatau dado como programa de governo de Marina Silva e do PSB, mas que
contraria tudo o que PSB defendeu até hoje, leva a uma originalidade mais do
que eleitoral: na disputa pela Presidência, ou há duas Marinas Silvas ou há
dois Aécios Neves. As propostas definidoras dos respectivos governos não têm
diferença, dando aos dois uma só identidade. O que exigiu dos dois candidatos
iguais movimentos: contra as posições refletidas nas críticas anteriores de
Marina e contra a representação do avô Tancredo Neves invocada por Aécio.
Ao
justificar sua proposta para a Petrobras, assunto da moda, diz Marina:
"Temos que sair da Idade do Petróleo. Não é por faltar petróleo, é porque
já estamos encontrando outras fontes de energia". Por isso, o programa de
Marina informa que, se eleita, ela fará reduzir a exploração de petróleo do
pré-sal.
Reduzir
o pré-sal e atingir a Petrobras no coração são a mesma coisa. Sustar o retorno
do investimento astronômico feito no pré-sal já seria destrutivo. Há mais,
porém.
Concessões
e contratos impedem a interferência na produção das empresas estrangeiras no
pré-sal. Logo, a tal redução recairia toda na Petrobras, com efeito devastador
sobre ela e em benefício para as estrangeiras.
Marina
Silva demonstra ignorar o que é a Idade do Petróleo, que lhe parece
restringir-se à energia. Hoje o petróleo está, e estará cada vez mais, por
muito tempo, na liderança das matérias-primas mais usadas no mundo. Os seus
derivados estão na indústria dos plásticos que nos inundam a vida, na produção
química que vai das tintas aos alimentos (pelos fertilizantes), na indústria farmacêutica
e na de cosméticos, na pavimentação, nos tecidos, enfim, parte do homem atual é
de petróleo. Apesar de Marina da Silva. Cuja proposta para o petróleo
significaria, em última instância, a carência e importação do que o Brasil
possui.
A
Petrobras é o tema predileto de Aécio Neves nos últimos meses. Não em ataque a
possíveis atos e autores de corrupção na empresa, mas à empresa, sem
diferenciação.
Que
seja por distraída simplificação, vá lá. Mas, além do que está implícito na
candidatura pelo PSDB, Aécio Neves tem como ideólogo, já anunciado para
principal figura do eventual ministerial, Armínio Fraga -- consagrado como
especialista em aplicações financeiras, privatista absoluto e presidente do
Banco Central no governo Fernando Henrique, ou seja, quando da pretensão de
privatizar a Petrobras.
A
propósito, no debate pela TV Bandeirantes, Dilma Rousseff citou a tentativa de
mudança do nome Petrobras para Petrobrax, no governo Fernando Henrique, e
atribuiu-a à conveniência de pronúncia no exterior. Assim foi, de fato, a
ridícula explicação dada por Philipe Reichstuhl, então presidente da empresa.
Mas quem pronuncia o S até no nome do país, com States, não teme o S de
Petrobras. A mudança era uma providência preparatória. Destinava-se a retirar
antes de tudo, por seu potencial gerador de reações à desnacionalização, a
carga sentimental ou cívica assinalada no sufixo "bras".
Ainda
a propósito de Petrobras, e oportuno também pelo agosto de Getúlio, no vol.
"Agosto - 1954" da trilogia "A Era Vargas", em edição agora
enriquecida pelo jornalista José Augusto Ribeiro, está um episódio tão singelo
quanto sugestivo. Incomodado com o uso feroz da TV Tupi por Carlos Lacerda, o
general Mozart Dornelles, da Casa Civil da Presidência, foi conversar a
respeito com Assis Chateaubriand, dono da emissora.
Resposta
ouvida pelo general (pai do hoje senador e candidato a vice no Rio, Francisco
Dornelles): se Getúlio desistisse da Petrobras, em criação na época, o uso das
tevês passaria de Lacerda para quem o presidente indicasse. De lá para cá, os
diálogos em torno da Petrobras mudaram; sua finalidade, nem tanto.
De
volta aos projetos de governo, Marina e Aécio desejam uma posição brasileira
que, por si só, expressa toda uma política exterior. Pretendem o esvaziamento
do empenho na consolidação do Mercosul, passando à prática de acordos
bilaterais. Como os Estados Unidos há anos pressionam para que seja a política
geral da América do Sul e, em especial, a do Brasil.
Em
política interna, tudo se define, igualmente para ambos, em dois segmentos que
condicionam toda a administração federal e seus efeitos na sociedade. Um, é o
Banco Central dito independente; outro, é a prioridade absoluta à inflação
mínima (com essa intenção, mas sem o êxito desejado, Armínio Fraga chegou a elevar
os juros a 45% em 1999) e contenção de gastos para obter o chamado superavit
primário elevado. É prioridade já conhecida no Brasil.
Pelo
visto, Marina e Aécio disputam para ver quem dos dois, se eleito, fará o que o
derrotado deseja.
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