17 maio 2017

Alhos e bugalhos

A política como mediadora de conflitos
Nilson Vellazquez, no blog Verbalize

Nas análises mais recentes sobre os efeitos da crise mundial do capitalismo, uma das consequências mais debatidas e que tem sido provocadora de uma grande desesperança em torno das esquerdas no mundo é a questão da criminalização da política ou que chamamos de caminho fora da política.

O efeito devastador das crises, hoje e ontem, provoca o já conhecido abandono às saídas políticas. Foi assim no período da crise de 29, geradora em último grau da Segunda Guerra Mundial, e tem sido assim no momento atual, com a ascensão de figuras cuja principal "qualidade" é a de não ser político. Nos Estados Unidos da América, a eleição de Trump simbolizou bem o que isso significa e por aqui a eleição de João Dória como prefeito da maior cidade brasileira e a tentativa de despontar no cenário de nomes como Luciano Huck e Roberto Justus são provas maiores dessas questões.

O que não podemos esquecer é que em períodos de crise soluções "novas" são apresentadas. As aspas se justificam, pois sabemos que nem tão novas são essas soluções. São roupas novas, falares diferentes mais uma mesma política, cujo vértice está na dominação de classe, na resistência do império ao seu declínio relativo e à possibilidade de um mundo multipolar, e na tentativa do capital de não reduzir sua taxa de lucro. Para isso, vale-se de qualquer expediente.

No Brasil, as soluções "novas" e a negação da política é motivada ainda mais pela operação Lava-Jato, que cada vez mais tem colocado o país ainda mais polarizado, entre o partido da Lava Jato (composto pelo consórcio golpista, mídia, setores do judiciário e do ministério público, além dos partidos de direita) e o partido da política. Essa tem sido, portanto, a contradição principal do Brasil atual.

Não há segredo. O destino de uma operação como a Lava-Jato -com as características que ela já demonstrou ter e com os crimes de lesa-pátria que já cometeu ao destruir as empresas de engenharia pesada e ao destruir mais de 600 mil vagas de emprego só neste setor - é levar ao poder soluções fascistas, tal qual o juiz que conduz a operação.

No entanto, sobre o termo política paira sempre uma confusão. Nesse sentido, é óbvia a compreensão de que tudo o que a classe dominante faz para a sobrevivência dela enquanto classe dominante é política - política no sentido de como realizar medidas ideológicas, políticas e econômicas a favor de uma classe. Mas quando nos referimos à negação da política tratamos dela como mediadora de conflitos.

É essa política como mediadora de conflitos que garante ao mundo, mesmo sob hegemonia burguesa, uma certa governabilidade; é essa política como mediadora de conflitos que possibilitou a existência de um estado - tanto como gestor dos interesses de uma classe, como quando uma burocracia estatal a comanda (bonapartismo) - mas é, sobretudo, essa política como mediadora de conflitos que garante as regras do jogo e não permite que o mundo viva em eterna convulsão social.

Se estivéssemos num período de ofensiva estratégica o que menos quereríamos era "mediar conflitos", mas, pasmem, - e como a dialética nos ajuda! - a tranquilidade de um mundo onde saibamos quais regras jogar, com estabilidade democrática e direito de existir e fazer política ainda é o melhor caminho.

Por isso, sem falsos moralismos, a nossa luta deve se concentrar em salvar o exercício dessa política mediadora de conflitos para que possamos sobreviver e continuar fazendo a luta por um Brasil forte e soberano. Avançam medidas retrógradas contra o povo e contra as esquerdas. A proposta de Reforma Política é um libelo de como o consórcio golpista quer ver a atividade democrática do país: nula. Combater o partido da Lava-Jato e conquistar corações e mentes para a Política é tarefa essencial. Cumpramos! 

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