28 novembro 2018

Uma crônica (minha) para descontrair


“Minha ostra, minha vida”
Luciano Siqueira

Uma verdade absoluta, consagrada pela sabedoria popular, vira e mexe a comprovamos no cotidiano: Tem gente que morre pela boca!

Nem sempre morre, é verdade — mas passa mal.

Por pura gulodice ou por uma irrefreável preferência por certas guloseimas.

Caso da amiga que, apesar de bem posta na vida e nas relações sociais — podemos dizer, estrela no high society da classe média —, depois de não menos que dez sofridos dias de desarranjo intestinal, a ponto de emagrecer mais de três quilos e quedar com fisionomia desmilinguida, ainda convalescente, portanto, deu-se ao exagero de consumir só de uma tacada, numa manhã ensolarada em Boa Viagem, quarenta ostras!

E não eram ostras quaisquer. Importadas sabe-se lá de onde, devidamente temperadas com azeite de oliva, limão, cominho e uma pitada de sal.

Um prazer indescritível, garante. Sobretudo combinado com drinques de ciriguela.

Pois bem. A dita cuja, sem perder o charme, cabelos soltos e levemente tingidos de lilás, compareceu ao trabalho na segunda-feira pedindo perdão a Deus, aos orixás e todas as divindades que a Humanidade já criou.

É que voltara a frequentar o trono com a assiduidade e a disciplina de um suicida. Um misto de dor abdominal, gases de odor incômodo e fraqueza pálida.

— Gente, infelizmente não consigo permanecer no trabalho. Corro pra casa, ou melhor, para aquele lugar de odor desinfetante — a privada —, de onde espero retornar quem sabe depois da meia noite.

— Menina, você não se arrepende de ter cedido à tentação da Crassostrea gigas?, perguntou o colega advogado, metido a erudito em situações de sofrimento alheio.

— Nada disso, respondeu a indigitada. Por uma boa ostra vou longe, as ostras fazem parte da minha vida!

Aqui com meus botões, apenas um observador da cena, me pergunto como alguém pode se arriscar tanto a uma salmonelose? Por prazer, certamente. O risco não se mede quando não se controla o desejo.

E assim caminha a Humanidade.

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