Bolsonaro não tem ideia do que seja governar um país
Por Wanderley Guilherme dos
Santos, Brasil 247
Estava certo o que se pensava antes da vitória de Jair
Bolsonaro: ele não tem ideia do que seja governar um país. Igualmente
apropriada era a tese de tratar-se de político periférico, com discurso
rotineiro para dois nichos de eleitores: os conservadores brutamontes e os
fardados – do Exército, bombeiros, policiais militares – além da polícia civil,
delegados e demais autoridades coatoras. Ou seja: franca expressão do aparelho
repressivo em suas nuances bélicas. Reacionário em costumes, Bolsonaro ganhou
palco adicional com a restrição legal às decisões e liberdades privadas da
população sobre o próprio corpo: direitos reprodutivos, orientação sexual,
vestuário, hábitos de consumo (álcool e maconha, principalmente), bem como a
abordagem médica aos vícios pesados.
A redução do tratamento discriminatório da mulher no mercado de
trabalho, algo mal desembarcado no litoral, revelou ao combativo então
parlamentar novo contingente de entidades malignas: mulheres ativistas, índios,
quilombolas, religiões afroassimiladas. Em sua longa carreira parlamentar não
há registro de projetos promovendo algum valor ou ideal. Sempre foi do contra,
à exceção do apoio ao impedimento de Dilma Rousseff, ocasião em que homenageou
o oficial que a torturara durante a ditadura. Uma atitude que, longe de
qualificar a altivez do parlamentar, desqualifica o indivíduo. E não seria o
poder obtido na mais estranha das eleições presidenciais brasileiras que o
tornaria uma pessoa humanamente mais respeitável.
Percebe-se a inexistência de projeto de governo representado
pelo candidato Jair Bolsonaro. Ele não conhecia nada nem círculos de
profissionais, afora a família e dois ou três marginais à vida acadêmica e
política que a ele se juntaram por falta de opção. Ninguém estava interessado
em Paulo Guedes ou Onyx Lorenzoni e o candidato a candidato só obteve legenda à
última hora. À medida que o processo eleitoral se mostrava estranho, teve a
candidatura transformada em saco de gatos e ratos. A vitória não recompensou
senão aos eventos bizarros da história humana a que se procura ficcionalmente
creditar estratégias ocultas e movimentos tectônicos da sociedade brasileira.
Por isso o presidente eleito terceiriza o governo e se cerca de
militares. Só se pronuncia para desmentir ministros não empossados ou vetar
algo. Nada produtivo ou animador. Espera-se que Paulo Guedes, Sergio Moro e os
militares saibam o que fazer com o governo terceirizado. E se eles não
estiverem de acordo entre sí? Já imaginaram o ex-capitão Jair Bolsonaro
arbitrar uma disputa entre o general Humberto Mourão e Paulo Guedes? Ou entre
Sergio Moro e o general Augusto Heleno? Pois, é.
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