Por onde reativar a economia?
Maksandro Souza*
A discussão em torno dos caminhos para
socorrer a economia e as medidas para ampliar oportunidades de trabalho dividem
opiniões, como sempre. Os motivos que levaram à redução dos juros e o papel do
estado para uma eventual retomada são questões subjacentes à essa controvérsia.
No campo conservador, alguns sustentam
que os juros caíram em função dos efeitos do teto dos gastos na economia.
Outros enxergam a redução dos juros como resultado da substituição da Taxa de
Juros de Longo Prazo - TJLP pela Taxa de Longo Prazo - TLP. Ambos são
partidários das políticas ultraliberais praticadas pelo governo Bolsonaro e apoiam
o que se convencionou chamar de austeridade expansionista. Para esta visão a
retomada da economia virá através unicamente do investimento privado, cabendo
um papel secundário ao estado. A austeridade é uma ideia questionada até mesmo
pelo Fundo Monetário Internacional – FMI, mas muito prestigiada no atual
superministério da economia.
Contudo, fica difícil atribuir a queda
dos juros às políticas do Guedes. Bastando tão somente observar o que acontece
no restante do mundo. No sítio Trading Economics, vê-se que nos EUA, os juros
são 0% assim como na zona do Euro; no Reino Unido, 0,10%. Dentre os BRICS, a
taxa de juros está em 3,85% na Rússia; na China, os juros estão na casa de
3,85%, bem próximo dos praticados na África do Sul, hoje em 3,75%. No Chile a
taxa está em 1,75%. No Paraguai, 0,75%. No Japão, os juros são negativos:
-0,10%.
Como bem explica Gabriel Galípolo, doutor
em economia pela Unicamp,os juros baixos engendram um novo tipo de rentismo,
alimentado pela política de Quantitative Easing, nome elegante para
flexibilização monetária. Neste novo esquema, a queda de juros inflaciona o
preço dos ativos financeiros, mesmo que descolados dos movimentos da economia
real. A redução das taxas de juros abre, assim, espaço para a valorização da
riqueza velha.
Neste cenário, para recuperar a economianão
será suficiente apenas inundar de recursos o sistema financeiro, como tem feito
Guedes. Para além de estatizar o passivo de bancos e empresas, os recursos
deveriam chegar às pessoas, hoje sobrevivendo em condições precárias, sem
direitos. Segundo o IBGE, aos 12 milhões de desempregados, somam-se 38,4
milhões de trabalhadores precarizados. A precarização dotrabalho excluiu
enormes contingentes do consumo, impedindo o êxito da estratégia de
gotejamento.
Assim, uma resposta mais adequada
consideraria dentre outros fatores, o processo de financeirização e a
precarização do trabalho: duas faces da mesma moeda. Dinheiro nas mãos dos que mais
precisam,ampliando as oportunidades de trabalho, estimularia a demanda. Acertadamente,
o PCdoB propõe uma combinação de políticas fiscais e monetária, com o estado
desempenhando um papel ativo no processo de retomada da economia.
*Maksandro
Souza, economista, mestrando de Economia pela Universidade Federal de Sergipe
Enfrentando
a tragédia nacional https://bit.ly/2CwMpND
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