A recuperação da China e o Brasil
Por que não devolveremos as perdas com a pandemia tão rápido quanto a
China?
Samuel Pessôa,
na Folha de S. Paulo
Na quinta-feira (16), foi divulgada a taxa de
crescimento da economia chinesa no 2º trimestre, ante o mesmo trimestre do ano
passado. Foi de 3,2%, um pouco acima dos 2,7% que esperávamos no
Ibre. Para o ano, estimamos que a economia chinesa cresça 1,2%.
Dado
que a economia chinesa havia recuado 6,8% no 1º trimestre de 2020 ante o 1º de
2019, a recuperação foi muito forte. A China já roda a um nível ligeiramente
acima daquele do 4º trimestre de 2019, logo antes do início da epidemia por lá.
Segundo
nossa previsão, no 4º trimestre a China estará um ponto percentual abaixo do
ponto em que estaria se não houvesse a pandemia, dada a tendência de
crescimento da economia, de 5,6% ao ano.
Para
o Brasil, o Ibre-FGV revisou o
crescimento para 2020 de queda de 6,5% para recuo de 5,5%. No
2º trimestre, o PIB deve cair 10,8% em relação ao mesmo trimestre de 2019.
Tudo sugere que o
crescimento norte-americano será muito parecido com o brasileiro: queda de 5%,
com mergulho de 10%, ou pouco menos, no 2º trimestre ante o 2º tri do ano
passado.[ x ]
O desempenho da
China tem sido bem melhor do que o brasileiro ou o americano. A comparação é
difícil, pois a tendência de crescimento da China é muito maior do que a do
Brasil ou a dos EUA.
Mas um exercício
simples mostra que a China vai bem, mesmo levando em conta essa diferença.
Se a tendência de
crescimento da China fosse de 1,5% ao ano, próxima da brasileira e da americana,
e tudo o mais constante, a economia chinesa iria sofrer uma queda de 2,5% neste
ano (comparado à nossa projeção de crescimento de 1,2%, dada a tendência real).
Ainda assim, portanto, o recuo da China seria menor do que projetado para o
Brasil e os EUA, na faixa de 5% a 5,5%.
A China tem se
saído melhor do que o Brasil ou do que os EUA porque a participação dos
serviços no PIB, o setor que mais sofre com a pandemia, é bem menor no país
asiático, além de estar lidando melhor com a pandemia.
Para 2021, nossos
números –muito especulativos– sugerem forte crescimento chinês, de 9%, que joga
o país de volta à trajetória de expansão que teria ocorrido sem pandemia. Muito
provavelmente no segundo semestre de 2021 a população chinesa, ou parte
expressiva dela, estará vacinada.
Voltando ao nosso
exercício anterior, se a tendência de crescimento da China fosse de 1,5%, a
alta do PIB em 2021, depois do recuo (hipotético) de 2,5% em 2020, seria de 6%.
Forte devolução também.
Qual será o
comportamento de Brasil e EUA? Se a China irá devolver toda a perda econômica
com a pandemia praticamente até o fim de 2021, por que motivo não devolveríamos
toda a nossa perda em um pouco mais de tempo?
Muitos analistas
enxergam grandes dificuldades com a atividade econômica no Brasil em 2021, pois
haveria forte contração fiscal.
Minha
interpretação, que já expressei neste espaço em 16 de maio, é que a elevação do
gasto público na crise não pode ser entendida como uma expansão fiscal
estimulativa. Não estamos gastando mais para estimular a atividade produtiva,
mas sim para permitir que as pessoas fiquem em casa.
Se houver retirada
de estímulo fiscal coordenada com o retorno da atividade produtiva, pode haver
troca do impulso público pelo privado, sem impedir a retomada da economia.
O impedimento hoje
é a forma pouco eficiente como temos lidado com a crise sanitária.
Algumas notícias
positivas, baseadas na redução do limite de imunizados em uma população –em
razão de heterogeneidades dessa mesma população– para que haja imunização
natural, indicam que talvez tenhamos uma solução mais definitiva antes da
vacina.
De qualquer forma,
após a devolução da perda da crise, voltaremos à nossa mediocridade de sempre.
Só
não vê quem está satisfeito https://bit.ly/2CwMpND
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