Angu de caroço
Luciano Siqueira
Na
Lagoa Seca da minha infância, quando algo não ia bem a gente logo dizia “tem
caroço nesse angu”.
A
expressão se aplica ao governo do ex-capitão Jair Bolsonaro. Em todas as áreas.
Sobretudo
quando se trata da execução orçamentária, em que frequentemente colidem
intenções demagógicas do presidente e o rigor fiscal que, a duras penas, seu
ministro Paulo Guedes, tenta implementar.
A
duras penas porque o governo é desorganizado mesmo. Um consórcio de interesses
conflitantes. E o ministro, que ontem veio a público dizer que não havia
recebido o cartão vermelho do presidente (suprema humilhação!), comete a
insensatez de especular com mais cortes de programas sociais para financiar o
pretenso Renda Brasil.
Na
verdade, o governo não ampliaria investimentos – o termo exato é esse, e não
gastos – na área social, apenas realocaria recursos entre rubricas.
Tudo
é perecível no governo, menos o cumprimento rigoroso dos compromissos com a
dívida pública, que drena recursos preciosos para o sistema financeiro.
Aí
o presidente se dá conta de que, nesse caso, a mão da redução das despesas com
idosos e portadores de deficiência não resolveria plenamente sua intenção de substituir
o Bolsa Família e ainda lhe renderia um desgaste político imenso.
Melhor
então suspender tudo, deixar o Bolsa Família seguir adiante e, de lambujem, uma
reprimenda demagógica ao ex-superministro da Economia.
Concomitantemente,
a grande mídia monopolizada pressiona o governo em favor do limite de gastos. A
agenda econômica é prioritária. Deve ser implementada a todo custo!
Dá
pra ver o tamanho da empreitada em que as forças oposicionistas estão metidas. Arrostar
as ameaçadas à democracia, a subserviência aos EUA e a agenda ultraliberal não
se faz apenas com memes ou declarações retóricas.
Urge
um programa alternativo que possa sinalizar uma alternativa ao que aí está. Um rol
de proposições que unifiquem em âmbito nacional extensas e diversificadas
forças sociais e políticas no combate ao desastroso governo do ex-capitão.
Algo
que ultrapasse as eleições municipais, nas quais partidos convergentes nacionalmente
se digladiam em função do poder local – o que é natural e compreensível no
calendário eleitoral brasileiro, na complexidade das diferenciações regionais e
intra-regionais e na pulverização da representação partidária.
O
pleito municipal não afeta, na essência, a empreitada nacional.
E
às correntes populares cabe enfrentá-lo com um olhar no imediato e outro na continuidade
da luta nacional.
Sim,
trata-se de um imenso angu de caroço – que é possível enfrentar com discernimento
e habilidade tática.
Veja: Criminoso desmonte do Estado nacional
https://bit.ly/2R5RfFB
Nenhum comentário:
Postar um comentário