23 setembro 2020

Minha crônica da terça-feira


Sem fôlego e atrasado
Luciano Siqueira

Estou entre os que consideram o WhatsApp uma boa invenção. Facilita a comunicação rápida e ágil aqui e em toda parte do Planeta.

Mas por isso mesmo me angustia.

Tudo tão rápido e tão fácil, mas cadê fôlego para acompanhar em tempo real a avalanche de mensagens?

Nos grupos, nem se fala. Participo de alguns por dever funcional ou por delicadeza, antecipando que me pronuncio raramente e em último caso. Como distinguir a olho nu mensagens religiosas, de autoajuda ou simplesmente bom dia, boa tarde, boa noite, bom fim de semana de um pedido de socorro ou o aviso de que, afinal, Bolsonaro renunciou?

Sou adepto da lista de transmissão. Você manda uma mensagem igualmente endereçada a uma turma que supõe interessada e se alguém responde só você sabe. E toca o diálogo.

Também gosto de me dirigir às pessoas em mensagem de áudio. Em geral todo mundo escuta, mesmo quando em plena faxina na memória do celular.

São tantos vídeos que ninguém resiste à tentação de apagar muitos sem ter visto. Cards também.

Mas a mensagem de áudio tem outro status. É quase uma conversa telefônica como antigamente, ao vivo.

Ocorre que o número do meu celular, o único que uso, milhares de pessoas o tem. Sabem que gosto de receber ligações. E se sentem à vontade para me abordar sobre qualquer assunto – o que muito me agrada.

Tenho até uma rotina dedicada a isso, com espaços definidos na agenda.

Mas a pandemia esculhambou tudo. O tal home office rompe com todas as boas expectativas de bom proveito do tempo. O trabalho consome a gente em videoconferências, que se sucedem.

Aí a leitura programada vai para o Beleléu, a comunicação pelo WhatsApp é inapelavelmente atropelada.

Um duplo desgaste: o de quem se dirige a mim e fica dias à espera de resposta; e o meu, que de relance percebo que as mensagens se acumulam e me vejo numa corrida de obstáculos em que estou atrasado e quase sem fôlego.

Sabe aquela comunicação entre indígenas que a distâncias imensas trocam mensagens através de sons? Estou assim. Com o celular à mão e a sensação de que as distâncias não se encurtaram, se acumularam...

Só me resta pedir paciência: estou atrasado, quase sem fôlego – mas chego.

Viver em quarentena é um desafio https://bit.ly/2Xm2lK5

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