Governo
Bolsonaro deve ser principal processado por política de devastação no Pantanal
Da decisão
do presidente vieram cortes de verbas, redução dos quadros técnicos e
científicos e nomeações de dirigentes inabilitados
Janio de
Freitas, Folha de S. Paulo
O governo Bolsonaro deve ser o primeiro e principal processado
pelo crime de devastação incendiária do Pantanal. As leis de proteção ambiental
e numerosos acordos internacionais de que o Brasil é signatário, assim como a
própria Constituição, foram e continuam transgredidos na meticulosa desmontagem
do sistema de vigilância, prevenção e combate às agressões ao patrimônio
natural. Esta é, notoriamente, uma rara política de governo em um governo sem
políticas.
É
notória, aqui e no mundo, a responsabilidade pessoal e direta de Bolsonaro. Da
sua decisão vieram os cortes de verbas, a redução dos
quadros técnicos e científicos, e as nomeações de dirigentes
inabilitados em setores como Ibama, Funai, ICMBio, INPE, e os outros de
importância vital para a Amazônia, o Pantanal e os povos indígenas.
“Amazônia tem 2º pior agosto de desmate, atrás só de 2019”
(já governo Bolsonaro). “Em 14 dias, Amazônia queimou mais que em setembro de 2019.”
Títulos como estes recentes, da Folha, sucederam-se desde a posse de Bolsonaro.
E, por consequência, a do executor do projeto de desmonte da proteção
ambiental, Ricardo Salles —já condenado por improbidade na secretaria do Meio
Ambiente de um governo paulista de Geraldo Alckmin.
A
indiferença de Bolsonaro ao clamor interno e internacional, a cada pesquisa de
desmatamento e queimadas, só não foi completa por suas provocações e
represálias administrativas. Entre elas, a demissão escandalosa do cientista
Ricardo Galvão, conceituado presidente do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais que divulgou, como de hábito e do seu dever, o crescimento
alarmante da devastação amazônica no então novo governo.
Constatado que o fogo no Pantanal tornava-se incontrolável,
a explicação foi imediata: não era tanto pelo fogo, mas pela falta de equipes
habilitadas para combatê-lo. Explicação complementar: a verba deste ano para
combatentes a queimadas, em comparação com a de 2019, foi cortada em mais de metade. A dimensão da
tragédia pantaneira não estava prevista, mas o fogaréu na Amazônia já exigia
maior investimento, e não perda de verba.
Acima
das necessidades está a política contra
a Amazônia e a riqueza ambiental. Com mais provas oferecidas
pelo próprio governo. O Orçamento para 2021 mandado por Bolsonaro ao Congresso,
por exemplo, corta ainda mais os recursos dos setores de monitoramento, defesa
e pesquisa visados pela destruição programada.
Essa política transgride a
legislação. É criminosa. Proporciona a apropriação de terras do patrimônio da
União, o desmatamento e o contrabando de madeira valiosa. Protege o garimpo ilegal e se incorpora a toda essa criminalidade. Bolsonaro e
seu governo são passíveis de processo criminal — e o merecem.
Criminoso desmonte
do Estado nacional https://bit.ly/2R5RfFB
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